Tendências Consultoria Econômica

  • Português
  • English
Edit Template

Desafios e perspectivas da economia brasileira – Jornal da Gazeta

Em entrevista ao Jornal da Gazeta, o economista Maílson da Nóbrega, sócio-fundador da Tendências Consultoria, comenta os desafios e perspectivas da economia brasileira

A política segue pesando, inclusive com um dos desafios que a economia brasileira tem hoje, que é a questão das tarifas cobradas das exportações brasileiras e essa posição de Trump, que se estende ao mundo todo. O presidente dos Estados Unidos tenta mudar uma ordem comercial global.

Ao ser questionado sobre ver condições do Brasil alterar esse cenário e se isso pode ter implicações mais graves para a nossa economia, Maílson responde que acredita sempre na negociação como a melhor estratégia. E, além disso, a estratégia também é “ficar calado”.

Isso porque o presidente Lula é o único chefe de Estado que fala todo dia contra Trump. E Maílson aponta que o nosso presidente encontrou um “filão”, que é envolver a sociedade para perceber que existe uma ameaça externa. A história mostra que, nessas situações, a sociedade tende a apoiar o governo.

Maílson diz que, de acordo com as pesquisas de opinião, Lula está ganhando terreno, e isso é muito perigoso, porque nós estamos lidando com Trump, um homem que tem estratégia, como disse a revista The Economist, de máfia, de intimidação. 

De acordo com Maílson, Trump é um cara muito complicado, analfabeto em questões econômicas e usa a tarifa de modo totalmente inédito no mundo e totalmente imprevisível. Ele tanto pode amanhã aceitar posições do empresariado brasileiro para excluir alguns itens, como pode aumentar a tarifa para 100%. Maílson cita Steven Levitsky, cientista político americano, que diz que é como negociar com alguém com um revólver na sua testa. 

Impactos na economia brasileira

Ao ser questionado sobre a possibilidade do Brasil abrir novos mercados, diante do cenário atual, Maílson explica que depende da situação. Temos, por exemplo, as commodities e os produtos industrializados, que são coisas diferentes.

Maílson acredita que os setores que destinavam uma parcela expressiva de sua produção pros Estados Unidos irão sofrer muito, porque não é possível da noite para o dia redirecionar uma quantidade desse tipo de produção para outros mercados. 

Entretanto, Maílson acredita que é um esforço que precisa ser feito, porque cada vez mais vai ficando claro que os Estados Unidos se tornaram um país não confiável, uma vez que o presidente pode mudar as coisas de um dia para o outro. 

A percepção mais pessimista é que isso vai continuar, porque ele vai criando interesses, ou seja, aquelas indústrias ineficientes dos Estados Unidos que não competiam com as brasileiras e de outros países, agora vão competir com a tarifa gigantesca, estabelecendo lobbies para manter a tarifa. Além disso, tem uma arrecadação de US$ 300 bilhões de arrecadação de tarifa até agora, que é de interesse do governo querer ficar com esse dinheiro por mais tempo.

Maílson diz que não é tão pessimista, mas muita gente, inclusive revistas de peso como The Economist, tem essa visão: vai demorar muito a reverter esse desastre das tarifas do Trump.

Risco fiscal

Maílson diz que, infelizmente, o Brasil chegou à situação inédita no mundo, que é a de rigidez orçamentária. 96% dos gastos primários, quando se consideram os pisos de Educação e Saúde, são de natureza obrigatória. Ficam 4% para fazer o resto, o que é inviável.

Estudos, tanto do Ministério do Planejamento quanto de consultores da Câmara, mostram que em 2027, 100% dos gastos serão obrigatórios, o que é a receita para um colapso.

Maílson diz que o Brasil tem que tomar medidas de natureza estrutural para devolver a flexibilidade ao orçamento. Na média do mundo, os governos dispõem da metade do orçamento para fazer políticas públicas pró-desenvolvimento, pró-redução da desigualdade e da pobreza. Aqui, 4%.

Ele diz que é possível ver que o governo já está parando. O Exército suspendeu a formação de atletas olímpicos porque não tem orçamento, as agências reguladoras perderam 25% do seu orçamento… Ou seja, vários sinais de paralisia. Para Maílson, é preciso fazer reformas para eliminar essa rigidez.


Ele cita como exemplo uma nova reforma da Previdência, para desvincular salário mínimo de aposentadoria, além de acabar “essa história” de vincular recursos de impostos a gastos com educação e saúde, pois só o Brasil faz isso e, de acordo com Maílson, é fonte de desperdício e de perdas, de modo geral.

E ele finaliza dizendo que isso não vai acontecer agora, porque o PT e Lula são absolutamente contrários a qualquer dessas ideias.

Confira a entrevista completa no vídeo abaixo!