de políticos no cenário brasileiro – CNN Brasil Money
- Na Mídia
- 03/06/2025
- Tendências

Em entrevista à CNN Brasil Money, Rafael Cortez, sócio da Tendências Consultoria, comentou sobre os índices de desaprovação de políticos no cenário brasileiro.
Popularidade de Lula
Ao ser questionado sobre como avalia esse cenário neste momento, principalmente depois de termos uma crise instaurada como a atual, Cortez aponta que é importante notar que o quadro complicado para o governo, do ponto de vista da popularidade presidencial, permanece. Ele explica que o governo até tinha tido uma boa notícia nas pesquisas feitas antes da crise do INSS e os levantamentos mais recentes têm mostrado ou estabilidade ou uma perda de rejeição. É um capital político muito preocupante do ponto de vista da construção de uma reeleição. E a razão por trás desse aumento de rejeição tem muito a ver com a crise do INSS.
“Como é que a gente extrai essa evidência? Porque, em outros questionamentos — sobretudo naquele em que eles perguntam qual é o principal problema do Brasil na visão do eleitorado — houve uma puxada bem relevante no peso da corrupção. E a questão do INSS, além de trazer o debate sobre corrupção de uma maneira concreta, também trata de uma questão muito próxima a um conjunto muito importante de eleitores. Estamos falando do rendimento da aposentadoria, de fraudes — e essa não é uma agenda da qual o governo consiga escapar facilmente. De tal sorte que, mesmo antes do estouro desse novo desdobramento do IOF, que pode trazer consequências para a atividade econômica, o fato é que a popularidade presidencial, neste momento, não autoriza um cenário em que o presidente Lula consiga a reeleição.”, explica Cortez.
IOF
Sobre o governo ter ou não subestimado o custo político dessa estratégia arrecadatória neste momento, Cortez diz que não é exatamente subestimar, porque a própria escolha do IOF já é, de alguma maneira, um realismo político de que eles não conseguem aprovar muito mais coisas no Legislativo. E, portanto, escolhem o IOF em parte para conseguir driblar essas amarras da ausência de força do presidente Lula e de seu governo junto ao Legislativo — incluindo os partidos da base aliada.
“Talvez o que a equipe econômica e o governo tenham subestimado seja, na verdade, o nível de ruído que determinadas matérias geram, como foi o caso do IOF. Assim que foi anunciado, houve um mau humor dos mercados, uma repercussão política muito negativa. O governo reconheceu isso e retirou parte das medidas para tentar acalmar esse movimento, mas não tem sido suficiente, a ponto de eventualmente o governo ter que mudar de direção mais uma vez sobre como quer gerir suas contas, pensando neste biênio 2025-2026.”, explica Cortez.
Ele ainda diz que, nesse sentido, o governo parece ter subestimado a ideia de que, neste momento, fazer política fiscal ancorada em aumento de arrecadação tem uma repercussão das mais negativas. E o que é desafiador para o próprio governo é que foram eles que construíram essa atual regra: o chamado novo marco fiscal, que demanda aumento de arrecadação, algo que o governo não consegue mais fazer. Daí toda a incerteza que pode transbordar lá na frente em mais barulhos adicionais aqueles que a gente já está vivendo neste momento, não só na política, mas também na economia.
Clima político tenso
Ao ser questionado sobre como avalia esse desgaste político geral, Cortez explica que é um processo que vai se retroalimentando. O governo fica preso nessa questão fiscal, não consegue construir a sua estratégia, que passa por aumento de arrecadação, mas ele não consegue colocar em prática. Então, sistematicamente, o governo ou dá um passo para trás, ou anuncia corte de gastos ou acaba decepcionando os agentes de mercado em relação à questão fiscal.
E, quando o governo tenta tomar medidas, como a do IOF, vem esse barulho junto à sociedade, junto aos grandes grupos econômicos, a pressão existe, e aí os parlamentares, que já estão insatisfeitos com o Planalto, reforçam ainda mais a temperatura e a instabilidade política.
“Quando o olhar do eleitorado entra em jogo, a gente vê que, no fim, o que o governo está tentando fazer e não consegue fazer é gerar uma agenda positiva, seja para melhorar as relações com o Congresso, seja para melhorar a confiança na economia, seja para aumentar a popularidade presidencial.”, explica Cortez. “O governo tentou fazer alguns outros movimentos que ainda não vão ser captados nessas pesquisas, como, por exemplo, isenção em relação à conta de luz, mas o fato é que é uma agenda negativa e tem machucado bastante a preferência do eleitorado em relação ao governo.”
Em relação à revogação, por parte do Congresso, desse aumento do IOF, e se existe realmente um risco real do Congresso sustentar essa questão da revogação, Cortez diz que o risco é real.
“De fato, esse debate não vai ser resolvido sem o governo propor alguma alternativa, sob pena de, eventualmente, chegar ao nível de derrubar o decreto. E digo isso por conta dessa pressão política que (…) é crescente. Ela é importante para alguns parlamentares que querem fazer oposição ao governo. Então isso também abastece toda essa insatisfação, seja da oposição, digamos, formal, seja da própria base aliada, que também sistematicamente reclama e nem se comporta, ao fim e ao cabo, como partido de base aliada.”, aponta Cortez.
Ele ainda diz que o fato é que os parlamentares ainda têm um nível de recursos importantes e ainda podem, no futuro, fazer pressão por mais desses recursos. E, para Cortez, não parece que, diante do mal-estar causado, o governo vá conseguir simplesmente manter a política tal como desenhou. É difícil antecipar qual seria essa medida alternativa, mas o fato é que, se tem algo que é muito difícil de passar no Congresso nesse momento, é alguma coisa que esteja relacionada a incremento de arrecadação.
Sobre ter faltado estratégia de comunicação por parte do governo para poder justificar o aumento do IOF como uma medida emergencial de compensação fiscal ou esse desgaste ser inevitável, independente de narrativas, Cortez acredita que algum desgaste já era natural.
“Não se faz política dessa natureza que não tenha algum tipo de barulho, ainda mais sob uma polarização política muito forte. Então acho que alguma coisa era natural. Agora, o fato do governo, no mesmo dia, ter recuado de uma parte da medida, mostra que, em alguma medida, isso não foi bem pensado, seja do ponto de vista da escolha, seja da estratégia, seja da comunicação.”, explica Cortez.
Ele ainda pontua que o problema da comunicação é ainda mais grave, porque o anúncio foi feito num dia em que o governo divulgava um relatório das suas contas e tinha anunciado um bloqueio orçamentário maior do que o esperado pelo mercado. O que significa que, olhando só do ponto de vista do bloqueio das despesas, o governo ia trazer uma notícia positiva pros agentes econômicos.
Mas, como também, em paralelo, veio o sinal de um aumento da arrecadação, esse efeito acabou não se materializando. E pior: o governo também teve que recuar posteriormente, mas mesmo esse recuo ainda não trouxe um cenário de estabilidade.
“Então, de fato, me parece que a falta de uma política mais clara e que tenha base de apoio política, mesmo dentro do governo, acaba dificultando bastante a gestão da comunicação e aumentando ainda mais o desgaste do governo como um todo e, particularmente, do ministro Haddad, que tem uma tarefa hercúlea de conseguir colocar as contas públicas em pé nesse cenário em que esquerda e direita não se entendem em como fazer esse mecanismo de ajuste.”, finaliza Cortez.
Confira a entrevista na íntegra no vídeo abaixo!