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Consumidor abandona marcas em tempos de inflação. Oferecer vantagem é saída – DC News

Em entrevista à DC News, Isabela Tavares, economista da Tendências Consultoria, comenta como, em tempos de inflação, consumidores tendem a abandonar marcas e ressalta que oferecer vantagens é essencial para manter a fidelidade.

Consumo do varejo

Em um documento da Tendências, eles traçaram um panorama tanto econômico quanto de poder de compra, com dados de consumo de varejo. E, entre esses dados, foi observado que a renda disponível permaneceu em níveis reduzidos no ano passado. Na média do período, a renda disponível ficou em 42%. A inflação de itens essenciais encerrou o período em 6%, bem acima do IPCA geral de 5.1%. (Os dados são acumulados em 12 meses até março). Perfeito.

Isabela explica que esse indicador de renda disponível a Tendências faz com base nos dados de inflação do IPCA, do IBGE. Ele significa o quanto as pessoas têm disponível para consumir, para investir, para gastar com outros itens além da primeira necessidade. É um jeito de pegar o dado do IPCA e entender exatamente como essa inflação está pressionando o orçamento.

Ela aponta que, se olhar o IPCA de forma geral, existem alguns itens lá dentro que não necessariamente todo mundo vai consumir. Então, a Tendências forma os dados com base em itens que as pessoas precisam consumir exatamente, que são os de primeira necessidade.

“Então, a gente tem alimentação, a gente tem habitação, a gente tem transporte, educação, comunicação. (…) Esses níveis baixos a gente tem visto desde o ano passado. Isso continuou agora no primeiro trimestre de 2025 e significa que as pessoas estão cada vez mais com a inflação pressionando o orçamento, sobrando menos dinheiro para conseguirem consumir outros bens. Então, as pessoas acabam gastando mais com esses itens de primeira necessidade.”, diz Isabela.

Ela explica que é importante visualizar também a diferença entre classes de renda.

“A gente sabe que as classes mais baixas, então a gente tá falando aí da classe D e E, da classe C, elas gastam mais com esses itens. O orçamento delas é mais pressionado, né? Elas têm que gastar mais com alimentação, elas não têm tanto para outros gastos. Então, quando a gente tem essa inflação de alimentos subindo, que é o que está acontecendo esse ano, que começou lá no ano passado e segue aí nesse primeiro trimestre, vemos esse indicador de renda disponível em níveis muito reduzidos. Acaba que as pessoas vão ter que pensar mais no que que elas vão consumir e entender melhor esse cenário para poder consumir outros bens, porque o orçamento tá apertado”. (…) É esse cenário que a gente tem aí para 2025, para 2026, onde as pessoas vão ser mais cautelosas em pensar em consumir. Não é fácil.”.

Ao ser questionada se existe algum impacto previsto para o varejo dada essa pressão inflacionária, com um cenário de juros altos, sem uma previsão de mudar a curto prazo, Isabela explica que, quando falamos em varejo, é preciso separar entre diferentes produtos. Isso porque existem segmentos que serão mais afetados nesse cenário.

“Quando a gente fala dessas pressões inflacionárias, condições financeiras mais apertadas, a gente tá falando de um varejo de bem durável, (…) de eletrodomésticos, de veículos, de vestuário, que são itens em que as pessoas vão pensar mais nesse cenário para consumir. (…) Esses produtos que vão sentir esse cenário um pouco mais negativo. Tem outros bens que acabam crescendo e que têm segurado um pouco esses dados mais positivos, que são bens que precisam estar nessa despesa das famílias, como medicamentos, artigos de cuidados pessoais e até os supermercados.”, diz Isabela. Ela acredita que esse é um cenário onde o varejista tem que pensar exatamente em qual produto ele está inserido e entender um pouco desse público.

“Classes de rendas mais altas tendem a sofrer um pouquinho depois e elas têm mais investimentos, então a gente tem os rendimentos financeiros com essa Selic muito alta ajudando um pouco essas classes.”

De modo geral, Isabela diz que temos um cenário onde, pro varejo, são bens mais duráveis que estão sofrendo mais.

Isabela também destaca a importância de entender o cenário econômico em que você se encontra e entender um pouco por trás dele. “Porque não adianta você ver um cenário onde as taxas de juros estão subindo, a inflação está pressionando e você tem uma diminuição na renda disponível. É importante você entender esse lado, qual é o caminho que esse cenário está seguindo, quais são as projeções pensando em curto prazo, mas também, junto com esse comportamento, onde a sua marca consegue entrar nesse cenário.”

Ao ser questionada sobre qual tem sido a orientação e o entendimento da Tendências sobre o varejo de consumo no cenário atual, considerando 2025 e já com previsões para o próximo ano, Isabela pontua que é um ano desafiador, principalmente pensando no consumidor. O consumidor está passando por maiores pressões e não existe uma perspectiva tão de curto prazo de ter uma redução importante na inflação. As taxas de juros devem continuar subindo.

É um ano de 2025 em que temos essas pressões, que vão durar também pelo menos ao longo de 2026. Então, pro varejo é um ano onde temos uma desaceleração no ritmo de crescimento. É o que a Tendências normalmente fala pros seus clientes: não é um ano onde você vai ter queda nas suas vendas, porque existem fatores positivos pro consumo, mas é um ano de crescimento mais baixo.

E dentro desse ano de crescimento mais baixo, é preciso pensar de forma estratégica, entender qual é o perfil do consumidor, qual é o consumidor que quer atender, porque existem diferentes perspectivas em termos de classes de renda.

A gente sabe que as classes de renda mais alta têm os rendimentos financeiros, as classes mais baixas já sofrem um pouco mais com essa pressão inflacionária, com o próprio reajuste nulo do Bolsa Família. Existem algumas características que afetam determinadas classes.

Então, pro varejo de forma geral é um cenário desafiador, mas ainda assim é um cenário de crescimento, talvez com margens menores, com uma venda crescendo um pouco menos, com meses um pouquinho piores que outros. Então existe esse desafio mês a mês de entender esse consumidor e esse comportamento.

Isabela destaca, entretanto, o potencial de crescimento do comércio varejista eletrônico, que é muito grande, com outros países tendo uma porcentagem de participação muito maior do que a do Brasil.

“É muito importante para o pequeno entender que o público está mudando. Quando a gente olha os dados econômicos, vemos que o comércio eletrônico tem ganhado força no consumo habitual. Antigamente, a gente via o comércio eletrônico muito voltado para a Black Friday, perto do Natal, que tinham as promoções. Então a gente sabia que, naquele período, o comércio eletrônico ia ser mais forte do que o físico. E, hoje em dia, a gente tem visto o contrário: as pessoas estão comprando, estão entendendo que comprar é seguro, que vai chegar, que tem toda a logística, que está tudo bem. (…) Não é que vá acabar o varejo físico ou que ele não é importante, mas entender qual é o papel dele nesse momento em que o comércio eletrônico continua crescendo, ganhando força.”, explica Isabela.

O “dever de casa” do varejista é ter que entender seu público e como falar com cada classe de renda. Sabemos que a experiência das classes e o que interfere, em termos econômicos e comportamentais também, são diferentes.

“A gente está falando de classe média, classe C, classes mais baixas D e E. Para eles, não importa tanto qual é o nível da Selic, entender quais são essas condições financeiras, se dificilmente eles têm acesso ao crédito, né? Então, para eles, importa muito entender o mercado de trabalho, se vão ter um emprego, como estão os programas sociais, se têm essas transferências de renda.”, explica Isabela.

“É olhar para esse lado da economia, de quais são os programas que vão ser atendidos, como estão os preços desses itens, para entender como vai ser o orçamento dessas pessoas. A gente tem números aqui de que a massa de rendas das classes mais altas vai crescer perto dos 4% este ano, e, para as classes mais baixas, já chega mais perto dos 3%. Para as classes D e E, não vai chegar nem a 2% de crescimento, né, porque a gente tem alguns fatores, principalmente dessas transferências, os programas sociais, o Bolsa Família, que vão ficar mais parados este ano. Então, não temos esse crescimento real na massa de renda dessas famílias.”

A massa de renda é toda a renda que é formada, os rendimentos que as pessoas ganham em relação à sua ocupação. Quando falamos da classe D e E, temos diferentes fontes de renda que impactam essa massa de renda ampliada.

Temos a Previdência Social, que é a mais importante. É preciso olhar como está essa Previdência, em termos dos reajustes, dos pagamentos. Sabemos que tiveram vários problemas recentemente com pagamentos, que interferem no orçamento dessas classes. O Bolsa Família também é bem importante e o mercado de trabalho.

O mercado de trabalho é o mais importante para a classe média. Então, se o varejista está olhando a classe C e um pouquinho da classe B, entender como está essa dinâmica do mercado de trabalho é muito importante, porque é o que forma a maior parte da massa de renda, do que as pessoas realmente ganham.

Para a classe mais alta (classe A), já estamos falando mais de ganhos financeiros, de entender como estão essas condições, taxa de juros alta… As pessoas têm investimentos altos, então os rendimentos financeiros aumentam.

O novo consignado

Sobre o novo consignado, que o consignado do trabalhador e que em 30 dias desde que foi lançado, movimentou mais de R$ 10 bilhões, ser algo bom ou ruim, Isabela diz que ainda é difícil definir.

“Depende do ponto de vista que a gente tá olhando. Acho que é uma alternativa importante para as pessoas que não tinham acesso ao crédito de forma mais barata. A gente sabe que é um juros muito mais barato do que a pessoa entrar num cheque especial, num cartão de crédito rotativo. E, antes, esse público que está sendo atendido por esse consignado novo do trabalhador, ele não tinha condições de entrar em outra parte do crédito que tivesse juros mais baixos.”, explica Isabela.

Para esse público, é uma oportunidade de entrar nessa modalidade, oportunidade de mudar o empréstimo que tinha. Por exemplo: a pessoa estava em um cheque especial que os juros eram absurdos e não iria conseguir pagar. Então ela faz essa troca para o consignado do trabalhador, diminuindo as taxas de juros, aumentando o prazo e tendo mais chances de conseguir pagar.

Em termos perspectivos, sabemos que é uma modalidade importante para diminuir o endividamento das pessoas, porque elas vão para uma modalidade de melhor qualidade, com juros mais baixos. Mas Isabela pontua que não é o momento ideal para termos esse movimento, porque o cenário como um todo está mais desafiador.

Inadimplência

Segundo dados da Tendências trouxe, a inadimplência deve subir no segundo trimestre. Isabela acredita que esse aumento acontece para o consumidor, mas também pensando na inadimplência do empresário.

“A gente sabe que, quando tem essas pressões no orçamento, com as pessoas consumindo menos, os pequenos empresários e varejistas sofrem mais, porque eles dependem mais desse fluxo de caixa, tanto para tomar crédito quanto para tomar empréstimos.”

Isabela diz que temos esse cenário de aumento nas taxas de juros, com os bancos estando mais seletivos – porque temos um problema também na oferta – e travando o crédito, principalmente para pessoas de baixa renda, que representam mais riscos.

“Eu acho que tem atenção para o varejista, olhando tanto o consumidor ficando inadimplente e isso pressionando ainda mais o poder de compra, quanto também para ele, porque diminui o fluxo de caixa e ele tem menos margem para tomar novos empréstimos. (…) Olhando pelo lado positivo, não é um cenário onde a gente tem uma explosão de inadimplência. A gente já teve anos com números bem piores, né? Tem cenários que podem ser mais pessimistas, mas num cenário básico, a gente tem um aumento, mas é um aumento relativamente controlado. E isso acontece principalmente por essas modalidades de crédito que estão entrando.”, explica Isabela.

Ela finaliza dizendo que ter esse contexto econômico é super importante para entender as perspectivas, compreender um pouco do cenário em que você vai entrar nesse curto prazo e também pensar a longo prazo. 

“A gente tem um cenário econômico que sai muito nas mídias. Sabemos que IPCA, Selic, isso vai saindo (nas mídias), mas é importante entender que, dentro disso, existe todo um mundo de indicadores que também são super importantes de investigar e que fazem todo sentido quando a gente olha para o lado do consumidor”.

Confira a entrevista completa no vídeo abaixo!