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Como controle do dólar é importante para as contas públicas? Economista avalia – Times Brasil

Em entrevista à Times Brasil, Silvio Campos Neto, sócio da Tendências Consultoria, avalia a importância do controle do dólar para as contas públicas.

Dólar em 2025

Ao ser questionado sobre o que espera para o dólar ao longo de 2025 e se a situação atual tende a se manter por enquanto, Campos Neto explica que esse movimento ganhou destaque no final de novembro e início de dezembro, após a divulgação do pacote fiscal, que consolidou um ambiente de expectativas que já vinha se deteriorando, principalmente ao longo do segundo semestre.

Hoje estamos com o dólar rondando os R$ 6,20. Podemos até dizer que houve algum exagero nesse movimento, mas o fato é que, no momento, estamos sem nenhuma âncora fiscal para prever uma correção significativa.

Olhando para frente, tanto neste ano quanto no próximo – ou seja, nos dois últimos anos do atual governo –, Campos Neto explica que há muitas preocupações com as políticas econômicas, especialmente na questão fiscal. Existe o risco de medidas que possam piorar ainda mais um cenário já desafiador.

Além disso, o contexto internacional também é difícil, marcado por um dólar forte no mundo. Isso não abre, por ora, perspectiva de um retorno aos níveis de câmbio observados há alguns meses. Campos Neto acredita que esses patamares acima de R$ 6 vieram para ficar nos próximos meses.

Se houver algum risco, seria de pressão adicional. Contudo, isso vai depender muito do cenário externo – como os sinais do início do governo Trump – e, principalmente, de como o cenário político no Brasil lidará com as preocupações fiscais.

Sobre se a diferença crescente entre as taxas de juros aqui e nos EUA pode ajudar a trazer o dólar de volta a patamares antigos ou se isso é insuficiente, Campos Neto acredita que essa diferença não será suficiente.

Ele explica que já existe uma precificação desse cenário: no Brasil, há expectativa de que a Selic alcance níveis ainda mais elevados, com duas altas adicionais de 100 pontos base, possivelmente chegando perto de 15%.

Nos EUA, o Fed já vem reduzindo os juros, mas há sinais de que esse ciclo está se aproximando de uma pausa. Os juros de mercado nos EUA continuam pressionados, o que limita o impacto dessa diferença nas taxas.

Portanto, o câmbio dependerá mais de outros fatores. Nos EUA, há incertezas sobre o governo Trump e sua abordagem em políticas econômicas, como protecionismo e cortes de impostos. Aqui no Brasil, a grande questão é como o governo e o Congresso vão responder às preocupações fiscais.

Sobre a possibilidade de cortes de gastos para ajudar no câmbio, Campos Neto diz que é algo extremamente desafiador, especialmente na magnitude necessária. No entanto, é fundamental que o governo sinalize com políticas estruturais que apontem para uma trajetória de despesas mais controlada no longo prazo.

Embora o arcabouço fiscal já estabeleça algumas regras, o crescimento das despesas obrigatórias continua incompatível com essas métricas. Isso torna o cenário ainda mais difícil, especialmente com a aproximação das eleições.

A incerteza sobre se o governo adotará medidas responsáveis ou seguirá uma linha mais populista é um fator que alimenta a percepção de risco e mantém o dólar nos níveis atuais.

Gabriel Galípolo no Banco Central

Ao ser questionado sobre se há alguma desconfiança do mercado em relação a ele, Campos Neto diz que as declarações do Gabriel Galípolo nos últimos dois anos foram bem recebidas. Ele demonstrou alinhamento com o regime de metas de inflação e com o uso da taxa de juros para controle da inflação.

Isso reduziu as preocupações do mercado sobre sua condução no Banco Central. Porém, existem incertezas relacionadas ao ambiente político, especialmente quando figuras importantes do governo sugerem mudanças na atuação do BC.

Esse tipo de ruído não só prejudica o trabalho do Banco Central como também pode exigir taxas de juros mais altas para compensar as incertezas.

Projeção da Tendências para o câmbio no final de 2025

Campos Neto diz que estão trabalhando com uma projeção de R$ 6,05, o que representaria uma pequena correção desse grande overshooting do final do ano. No entanto, o ambiente é muito incerto  e não podemos descartar cenários em que o dólar vá um pouco além disso. Isso dependerá tanto do governo Trump nos EUA quanto da resposta do governo brasileiro às questões fiscais.

Confira a entrevista completa no vídeo abaixo!