Com dólar a R$ 6, Banco Central deve acelerar de novo ritmo de alta da Taxa Selic, que pode ir a 12% ao ano – O Globo
- Na Mídia
- 09/12/2024
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Em novembro, o aumento foi de 0,50 ponto, já mais forte do que a primeira elevação do ciclo, de 0,25 ponto em setembro
A passagem de bastão de Roberto Campos Neto para Gabriel Galípolo na liderança do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) deve ser marcada por um aumento mais forte da taxa básica de juros. Com o dólar a R$ 6, piora da inflação e economia muito aquecida, o colegiado não deve ter outra alternativa senão acelerar mais uma vez o ritmo de aperto da Selic nesta semana, de acordo com analistas do mercado.
A maioria das apostas é de uma alta de 0,75 ponto percentual, de 11,25% para 12% ao ano, que já seria o maior patamar da Selic em um ano. Mas não está descartado um ajuste mais duro, de 1 ponto percentual, para 12,25% ao ano, esperado por instituições como Itaú Unibanco e XP Investimentos. Em novembro, o aumento foi de 0,50 ponto, já mais forte do que a primeira elevação do ciclo, de 0,25 ponto em setembro.
Em pesquisa do Valor Pro com 117 instituições, 89 projetam alta de 0,75 ponto percentual, para 12%, e 24 estimam aumento de 1pp, para 12,25%. Só quatro casas que esperam manutenção do ritmo de 0,50pp, para 11,75%.
No último encontro, o Copom não se comprometeu com nenhum passo específico e disse que os “ajustes futuros” seriam ditados “pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta”. Mas as apostas migraram de vez para nova aceleração após a apresentação do pacote fiscal pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
A reação negativa do mercado financeiro, principalmente devido ao anúncio conjunto do aumento da isenção do Imposto de Renda, levou o dólar a superar a marca de R$ 6 pela primeira vez e a continuar renovando recordes na última semana.
O Copom já vinha alertando sobre os impactos dos desdobramentos fiscais para os ativos financeiros, como o câmbio, e para a política monetária e indicando que regras críveis eram importantes para uma trajetória mais favorável da Selic.
O dólar mais alto se traduz em aumento de preços de produtos e serviços que usam componentes importados, impactando negativamente a inflação. Também pesa para um câmbio mais depreciado atualmente a expectativa para o governo de Donald Trump na presidência dos Estados Unidos em 2025.
Projeções
No Copom de novembro, foi considerada uma cotação do dólar de R$ 5,75 nas projeções de inflação oficiais do BC, que já estavam acima da meta de 3,0%. A projeção era de 4,6% para 2024 (acima do teto de 4,5%), 3,9% para 2025 e 3,6% no segundo trimestre de 2026, foco atual da política monetária.
Esses números tendem a piorar. O Itaú Unibanco, por exemplo, estima que a projeção do BC para 2024 alcance 4,8%, para 2025 também ultrapasse o teto da meta, em 4,6%, e para o 2º trimestre de 2026 vá a 4,1%.
O aumento forte nas projeções de inflação deve ocorrer não só pelo câmbio, mas pelo desempenho da atividade econômica, com novo crescimento robusto do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre, do IPCA e das expectativas.
Nesta segunda-feira, o Boletim Focus mostrou um salto nas projeções do mercado financeiro para o IPCA de 2024, 2025, 2026 e 2027. Em relação ao último Copom, a estimativa de inflação da Focus para o ano que vem subiu 0,56 ponto percentual, de 4,03% para 4,59%, e para 2026, 0,39 ponto, de 3,61% para 4,00%.
Piora substancial
— Tem muita informação nova desde o último Copom e sua combinação indica aceleração da inflação. Houve uma piora substancial do risco inflacionário — resume o economista-chefe do Banco BV, Roberto Padovani.
Padovani espera que a Selic suba 0,75 ponto nesta quarta-feira, para 12%, e alcance 13,50% em maio.
A economista e sócia da Tendências Consultoria Alessandra Ribeiro tem a mesma expectativa para a dose de aumento dos juros na reunião desta semana, mas acredita que a taxa deve alcançar 14% no fim do ciclo, em junho.
Segundo ela, o BC precisará ser mais duro do que em novembro devido à piora da percepção de risco do país, evidenciada pelo patamar do câmbio, à economia muito aquecida e ao distanciamento das expectativas de inflação.
Mas Ribeiro acredita que não será necessário dar um choque de juros, com um aumento de 1 ponto, porque considera que o estresse do mercado tende a se acomodar na medida em que ocorra a aprovação das medidas de contenção de gastos apresentadas pelo governo.
— Há sinalização de um andamento um pouco mais rápido no Congresso. Isso pode gerar uma acomodação no mercado, nada maravilhoso, mas sai do pico de estresse. Veio um encaminhamento fiscal, abaixo do desejado, mas endereçando algumas questões sensíveis, como salário mínimo, BPC e abono salarial — disse.
Já o Itaú acredita que o BC terá de pisar forte no acelerador neste encontro do Copom e aumentar a Selic em 1,00 ponto percentual, para 12,25%. Segundo o banco, os últimos meses foram marcados por um “crescente de incerteza e aversão a risco”, em parte pelo contexto externo, mas também pela frustração inicial com o pacote fiscal. “A taxa de câmbio, variável relevante para as perspectivas de inflação, chegou à sua máxima histórica, acumulando depreciação intensa (e bastante descolada das moedas de mercados emergentes)”, destacou o Itaú, em relatório.
“As expectativas de inflação tiveram alta acentuada, seja nas métricas implícitas em preços de ativos, seja na pesquisa Focus, onde as medianas das projeções para 2025 e 2026 tiveram saltos comparáveis a poucos episódios do passado, inclusive na data crítica utilizada como referência para a decisão desta semana. Tal cenário demanda uma ação mais vigorosa por parte do Copom”, completou.
Último ato
O banco ainda espera que o Copom indique nova alta de 1pp na reunião de janeiro e que a Selic termine o ciclo acima da taxa de 13,50% projetada atualmente. A XP Investimentos, que também espera uma aumento de 1pp nesta quarta e em janeiro, acredita, por sua vez, que a autoridade monetária poderia optar por deixar claro que este ritmo já é suficientemente elevado, com o objetivo de evitar especulações em relação a movimentos ainda mais intensos no mês que vem.
Já Roberto Padovani e Alessandra Ribeiro avaliam que foi acertada a estratégia do BC de não se comprometer com um ritmo de alta de juros até o momento e que isso deve se repetir esta semana. Padovani lembra, contudo, que a comunicação da gestão de Campos Neto no BC foi alvo constante de críticas. São exemplos desde as declarações que culminaram no racha da reunião de maio deste ano tanto o forward guidance formal em 2020, quando o Copom levou a Selic a 2%.
Para além da mínima histórica dos juros, Campos Neto ficará marcado por ter atuado como primeiro presidente do BC autônomo, uma agenda que defendeu enfaticamente, e que mostrou seus desafios com a troca de governo. O atual comandante da autoridade monetária se tornou o alvo favorito das críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A partir do ano que vem, Lula terá maioria no Copom. Segundo Alessandra Ribeiro, as últimas indicações para o BC foram positivas, principalmente a de Nilton David para a diretoria de Política Monetária, atualmente ocupada por Galípolo.
— Mas o mercado vai testar o Copom. Será o teste do pudim reunião após reunião. Para ver se o BC está reagindo conforme o cenário econômico vai pedindo.
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