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Brasil abriu 1,7 milhão de empregos com carteira assinada em 2024. O que esperar deste ano? – O Globo

Segundo o Caged, dezembro terminou com 535,5 mil vagas fechadas, no pior resultado para o mês desde 2020, durante a pandemia de Covid-19

O Ministério do Trabalho e Emprego informou ontem que foram criadas 1.693.673 de vagas com carteira assinada no país em 2024, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). O resultado veio abaixo do esperado pelo mercado, que esperava abertura de 1,8 milhão de vagas no ano.

Os números totais de 2024 mostram um aumento de 16,5% em relação ao ano anterior, mas em dezembro foi registrada retração nos postos de trabalho. O mês terminou com 535,5 mil vagas fechadas, no pior resultado para dezembro desde 2020, durante a pandemia de Covid-19.

Os dados mais fracos do emprego com carteira contribuíram para uma queda acentuada dos juros futuros ontem. Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, lembra que os dados sugerem uma desaceleração da atividade econômica, o que tende a reduzir pressões inflacionárias e sobre a taxa básica de juros.

O recuo dos juros futuros ajudou na valorização das ações de empresas ligadas ao consumo, e o Ibovespa fechou em forte alta, de 2,82%.

Desaceleração

Além do saldo negativo em dezembro, o Caged já indicava uma desaceleração. Em outubro houve queda de 47,2% sobre setembro, e novembro registrou saldo 19% menor que no mês anterior.

— Ainda devemos ver uma resiliência, mas a desaceleração (da abertura de vagas) vai aumentar a partir da segunda metade do ano, captando os efeitos das condições financeiras apertadas e da deterioração da confiança no ambiente doméstico — avalia Lucas Assis, economista da Tendências Consultoria.

Para Rodolpho Tobler, economista do FGV Ibre, o retrato do mercado de trabalho formal no ano passado é positivo e deve ser considerado, a despeito da desaceleração no fim do ano.

— O resultado mostra que a retomada consistente do trabalho formal reverberou no consumo e em salários maiores. Estamos falando de maior poder de compra por parte da população — analisa.

Tobler concorda que os números de dezembro trazem um sinal de alerta. Ele lembra que os indicadores de confiança medidos pela FGV, que capturam as viradas de ciclo, apontam percepção mais negativa dos empresários em relação aos negócios e à demanda.

No entanto, o economista considera prematuro cravar uma desaceleração contínua do emprego nos próximos meses:

— A gente está com um sinal de alerta, mas ainda vale um compasso de espera porque temos poucos resultados. Os números deste início de ano é que vão ditar o ritmo de 2025 — concluiu.

O resultado positivo expressivo do ano passado marcou a primeira vez em que houve aumento anual na geração de emprego em relação ao ano anterior desde 2021, no pós-pandemia.

Os dados de 2024 mostram que a maior parte das vagas foi criada na Região Sudeste (779 mil), seguida das regiões Nordeste (330 mil) e Sul (297 mil). A maioria dos postos criados está concentrada no setor de serviços, que absorveu mais 929 mil trabalhadores. Comércio, indústria e construção tiveram um saldo positivo de 336 mil, 306 mil e 110 mil vagas, respectivamente.

Novas contratadas

O salário médio real de admissão de 2024 foi de R$ 2.177,96. É um ganho de R$ 55,02 em relação a 2023 (R$ 2.122,94). O salário mínimo estava em R$ 1.412 no ano passado.

A garçonete Gabriele Ancieto de Oliveira, de 39 anos, foi contratada em outubro do ano passado após cinco meses de busca por um novo emprego.

— Tinha cinco meses que eu tinha saído de outra empresa, estava recebendo seguro (desemprego). Fui indicada por uma pessoa, o restaurante gostou do meu trabalho e assinou minha carteira.

Ela explica que foi a rede de apoio entre profissionais da área que a ajudou a se recolocar no mercado. Gabriele participa de três grupos em redes sociais que servem para trabalhadores do setor gastronômico compartilharem vagas.

— Graças a Deus está tendo emprego para todo mundo — afirma.

As analistas de marketing Júlia Falante e Isabela Rodrigues Vianna, ambas de 22 anos, conquistaram em 2024 o primeiro emprego dentro da área que pretendem trabalhar.

As duas tiveram trajetórias semelhantes dentro das empresas onde trabalham, iniciando como estagiárias. Mas a efetivação se deu de formas diferentes: enquanto Isabela já vinha sendo treinada para a função, Júlia explica que se surpreendeu com a boa notícia:

— Foi uma surpresa porque a vaga era da mesma coordenação de que eu fazia parte como estagiária, só que era de uma outra equipe interna. Então, essa vaga foi realocada para a equipe que eu estava. 

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