Tendências Consultoria Econômica

  • Português
  • English
Edit Template

BC se reúne hoje para último Copom do ano com dúvida de alta na Selic entre 0,75 e 1 ponto – O Globo

Reunião também será a despedida de Roberto Campos Neto dos encontros sobre juros

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) se reúne nesta quarta-feira para a última reunião do ano, que será também a derradeira participação de Roberto Campos Neto à frente da autoridade monetária — a partir de janeiro, Gabriel Galípolo assume o cargo.

A reunião ocorre em meio à recente escalada do dólar. A maior parte das instituições financeiras avalia que o Copom deve elevar a Selic em 0,75 ponto percentual, mas algumas já esperam alta de 1 ponto.

No relatório Focus, que reúne as estimativas do mercado, a projeção para o dólar no fim do ano passou de R$ 5,70 para R$ 5,95. Analistas veem a inflação medida pelo IPCA encerrando o ano a 4,84% — acima do teto da meta, de 4,5% —, com a Selic a 12%.

Isso ocorre porque o dólar alto pressiona a inflação, pois muitos produtos são cotados em dólar ou dependem de insumos importados, e a taxa de juros é a ferramenta do BC para controlar os preços.

Em pesquisa do Valor Pro com 117 instituições financeiras, 89 projetam alta de 0,75 ponto percentual amanhã, o que levaria a Selic a encerrar o ano a 12%, conforme as projeções do Focus. No entanto, 24 esperam um aumento de 1 ponto, para 12,25%. Só quatro casas apostam em outra alta de 0,5 ponto, para 11,75%.

Na última reunião, em novembro, o Copom não deu qualquer direcionamento. Apenas afirmou que futuros ajustes seriam ditados “pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta.”

Mas o pacote fiscal apresentado pelo governo não agradou ao mercado, principalmente devido ao anúncio conjunto da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. Com isso, o dólar superou pela primeira vez a marca dos R$ 6, registrando recordes sucessivos.

Decepção fiscal

O Copom já havia alertado sobre os impactos da questão fiscal nos ativos financeiros, como o câmbio, e na política monetária. E ressaltou que regras críveis eram importantes para uma trajetória mais favorável da Selic.

Em novembro, as projeções do BC consideravam um dólar de R$ 5,75 e inflação de 4,6% este ano e 3,9% em 2025.

Esses números tendem a piorar. O Itaú Unibanco, por exemplo, estima que a projeção do BC para 2024 alcance 4,8%, ficando em 4,6% para o ano que vem.

O aumento forte nas projeções de inflação deve ocorrer não só pelo câmbio, mas pelo desempenho da atividade econômica, com novo crescimento robusto do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre — de 0,9% frente ao período anterior —, do IPCA e das expectativas.

— Tem muita informação nova desde o último Copom, e sua combinação indica aceleração da inflação. Houve uma piora substancial do risco inflacionário — resume o economista-chefe do Banco BV, Roberto Padovani.

Ele projeta alta de 0,75 ponto na Selic, com a taxa atingindo 13,5% em maio do ano que vem.

Alessandra Ribeiro, economista e sócia da Tendências Consultoria, tem a mesma expectativa para o aumento da Selic esta semana, mas vê a taxa em 14% em junho de 2025, quando o ciclo de altas deve chegar ao fim. Segundo ela, o BC precisará ser mais duro devido à piora da percepção de risco do país, evidenciada pelo patamar do câmbio, a economia aquecida e o descolamento das expectativas de inflação.

A economista, no entanto, avalia que não será necessário dar um choque de juros, com aumento de 1 ponto:

— Há sinalização de um andamento um pouco mais rápido no Congresso. Isso pode gerar uma acomodação no mercado, nada maravilhoso, mas sai do pico de estresse. Veio um encaminhamento fiscal, abaixo do desejado, mas endereçando algumas questões sensíveis, como salário mínimo, BPC e abono salarial.

‘Teste do pudim’ em 2025

Já o Itaú acredita que o BC terá de pisar forte no acelerador esta semana e projeta alta de 1 ponto, para 12,25%. Segundo o banco, os últimos meses foram marcados por “crescente de incerteza e aversão a risco”, em parte pelo contexto externo, mas também pela frustração com o pacote fiscal.

Em relatório, analistas do Itaú citam o recorde do dólar e a “alta acentuada” nas expectativas de inflação. “Tal cenário demanda uma ação mais vigorosa por parte do Copom”, afirmam. O banco espera que o colegiado indique outra alta de 1 ponto em janeiro.

A XP Investimentos também projeta aumento de 1 ponto amanhã e em janeiro.

Em 2025, quando Gabriel Galípolo assume a presidência do BC no lugar de Roberto Campos Neto, o governo Lula terá maioria no Copom.

— O mercado vai testar o Copom. Será o teste do pudim reunião após reunião. Para ver se o BC está reagindo conforme o cenário econômico — afirma Alessandra.

Reprodução. Confira o original clicando aqui!