BC ajuda a conter dólar mas não ataca o real problema, dizem analistas – Uol
- Na Mídia
- 20/12/2024
- Tendências
A atuação do Banco Central no câmbio nos últimos dias ajuda a conter a volatilidade do dólar, mas não ataca o real problema e deve ser feita com cautela, dizem economistas ouvidos pelo UOL.
O BC vendeu US$ 20,9 bilhões somente nesta semana, após a moeda americana ultrapassar a marca dos R$ 6. Na manhã desta sexta-feira foram vendidos US$ 5 bilhões. Ontem, quinta-feira (19), o BC vendeu outros US$ 8 bilhões. O dólar iniciou a semana cotado a R$ 6,09 e abriu nesta sexta-feira a R$ 6,05. Ontem, chegou ao pico de R$ 6,30.
Por que o BC atuou?
Dólar teve alta brusca e choque de juros não segurou a moeda. A atuação do BC se justifica pela alta volatilidade no câmbio, com o dólar subindo muito em pouco tempo. “Houve uma virada de câmbio muito agressiva. Houve aumento de juros na semana passada, havia a ideia de que com isso o mercado ia se acalmar, mas não aconteceu”, disse Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados.
Atuação do BC tem foco em reduzir a volatilidade. A ação do BC nos últimos dias tem o objetivo de evitar mudanças muito bruscas do câmbio, o que pode gerar prejuízos para empresas e agentes do mercado financeiro. A intenção é diminuir a intensidade de possíveis perdas, e não determinar o preço da moeda, dizem economistas.
Por que o dólar subiu?
Origem da crise no câmbio é fiscal. A atuação do BC não ataca a origem do problema, que é fiscal, dizem os economistas. “O problema original não foi sanado, que é a preocupação com as contas públicas. O BC tem poucos instrumentos para atacar, porque o problema está nos fundamentos”, diz Silvio Campos Neto, sócio da Tendências Consultoria.
Saída de dólares sazonal não é significativa em um cenário de estabilidade. A saída de dólares que ocorre tradicionalmente no final do ano devido ao resgate de dividendos de empresas internacionais pode explicar em parte o movimento dos últimos dias, mas não é a causa da alta do dólar, dizem os economistas. “O fluxo cambial está negativo em dezembro, mas isso já aconteceu antes e não houve problema algum porque o ambiente era outro. O que faz o dólar subir é o ambiente de expectativas”, diz Neto.
Até onde vai o BC?
A dúvida é até onde vai a atuação do BC. Agora, a questão é saber até onde o Banco Central vai se dispor a atuar no câmbio. “Se o BC perceber que o câmbio vai ficar estacionado, tende a parar de atuar. Tenho a impressão que está chegando esse momento”, diz Vale.
Se tentar controlar o câmbio, o país vai perder dinheiro. Isso significa que a atuação não ocorre para levar o dólar a determinado patamar, e sim para que a variação da moeda seja mais suave. “O BC não atua para mudar o câmbio de equilíbrio. Se fizer isso, vai perder dinheiro à toa”, diz Vale.
O BC deve ter cautela para não queimar reservas. É necessário ter cautela com os volumes de venda de reservas, para que o país não fique vulnerável, sem um colchão de reservas robusto, diz. O país tem mais de US$ 300 bilhões em reservas. “Se o mercado perceber que o Brasil está vulnerável, aí vamos sofrer um ataque especulativo de verdade”, diz Neto.
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