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As previsões dos especialistas do mercado – Times Brasil

Em entrevista ao Times Brasil, Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria, comenta previsões do mercado, destacando inflação acima da meta, juros altos e impacto moderado das tarifas dos EUA, mais sentido por exportadores

Ao ser questionada sobre a possibilidade de, até o fim do ano, chegar ao teto da meta de inflação de 4,5%, Alessandra explica que a projeção da Tendências é de 5,2%. E, dado o que eles têm acompanhado das principais aberturas da inflação ao consumidor, avaliam que é difícil chegar a um patamar de 4,5% e que isso deve se materializar mais em 2026, uma vez que este ano ainda se mostra bem desafiador.

Será necessário que o Banco Central tenha que justificar, mais uma vez, esse período à frente que a gente tem, no regime de metas de inflação contínua, com uma inflação acima do teto da meta.

Desaceleração da economia

Sobre a prévia do PIB do Banco Central do último mês, que trouxe uma queda de 0,7% e possibilidade desses números influenciarem o comportamento do Copom nas próximas reuniões, Alessandra diz que os números mostram a atividade econômica realmente dando sinais de uma maior acomodação. O ritmo ainda é bem gradual, mas a economia está desacelerando.

“Para o Banco Central, ainda é cedo para alguma mudança de discurso, olhando para as próximas reuniões, até porque essa atividade econômica precisa desacelerar mais, afetar o mercado de trabalho, que é bastante sensível quando a gente olha a inflação — principalmente a inflação de serviços, que é uma grande preocupação do Banco Central brasileiro. Essa inflação de serviços tem se sustentado em patamares ainda bastante elevados. Não está acelerando mais, mas tem um patamar bastante alto. Então, não esperamos nenhuma mudança de narrativa ou de postura do Banco Central nas próximas reuniões. Ou seja, o Banco Central deve continuar com uma sinalização dura em relação à permanência dos juros nos atuais patamares.”, aponta Alessandra

Tarifaço de Trump

Ao ser questionada sobre até que ponto isso vai prejudicar o crescimento da economia como um todo e pode ser o pior cenário para o Brasil, Alessandra diz que o que a Tendências está entendendo é que o pior cenário pode ser o de retaliação.

Como a carta do governo americano deixou claro, se o governo brasileiro retaliar, eles vão aplicar o mesmo percentual nas tarifas cobradas para os produtos brasileiros nos Estados Unidos. Então, se, por exemplo, o Brasil retaliar com 50%, a gente vai ter 100% de tarifas — e aí acaba o comércio.

“Mas o que a gente entendeu agora, olhando as sinalizações do final de semana, é que o governo brasileiro está optando, sim, pelo caminho da diplomacia, pelo caminho da negociação — o que é positivo para o Brasil. Vamos ver o que o Brasil consegue dessa negociação. Ainda que eu ache — e aqui na Tendências temos refletido muito sobre isso — que o espaço para negociação é limitado, porque as motivações não foram econômicas, foram políticas. E, como a gente não vê uma mudança de postura nem do Supremo brasileiro, nem do Brasil em termos de posição no âmbito dos BRICS, avaliamos que o espaço para negociação pode ser limitado. E aí, não teremos uma redução muito substancial dessas tarifas.”, explica Alessandra.

Ela diz que, sendo esse o cenário, obviamente teremos efeitos negativos para a economia brasileira, mas, no todo, no agregado, não parecem efeitos muito significativos. Algo na casa de 0,3 ponto percentual de retirada da taxa de crescimento. Hoje, quando analisamos o peso das exportações brasileiras para os Estados Unidos no PIB, estamos falando de um pouco menos de 2% do nosso PIB.

Alessandra ainda diz que o que devemos observar são efeitos setoriais mais importantes, porque temos segmentos muito expostos ao mercado americano — como o aço, a indústria aeronáutica (aviões e peças), alguns produtos agropecuários (como o café, o suco de laranja) e uma parte do setor industrial relacionada à exportação de máquinas e equipamentos. Então, sim, do ponto de vista setorial, esses setores devem sentir um pouco mais, ainda que no agregado o efeito pareça mais limitado.

Riscos

Sobre o risco de Trump bater no peito e tomar como uma questão de honra salvar a pele do ex-presidente Bolsonaro, e, de repente, aplicar sobre o Brasil sanções parecidas com as que ele aplicou, por exemplo, contra a Venezuela, Alessandra diz que é um risco que não está sendo precificado, mas que tem que estar, sim, no radar.

Como foi entendido a partir da última carta, a motivação não é econômica, é política. E, se realmente a avaliação de que não vai haver mudança na postura do STF e tudo mais for correta, pode, sim, haver esse tipo de reação do governo americano.

“Em princípio, dadas as surpresas, é difícil falar de probabilidade, dado que os próprios 50% já foram uma grande surpresa. Por isso, acho que precisamos manter esse risco no radar, caso a evolução desses processos — inclusive em relação ao ex-presidente — não aconteça conforme o contento do governo americano.”, explica Alessandra.

Questão tarifária

Falando sobre a questão tarifária, em um cenário em que, mesmo que as tarifas de 50% se concretizem, pode ser que Trump libere alguns produtos que são essenciais para o mercado americano, como o café, por exemplo, Alessandra diz que esse ponto nos favorece, de forma geral, em boa parte dos segmentos mais afetados, porque o Brasil é um grande fornecedor do mercado americano.

“Então, esse exemplo claro do café, o suco de laranja também — o Brasil é um fornecedor bastante importante. Na parte de aço semiacabado, o Brasil também é um fornecedor muito relevante. E, na parte de aviões e partes — aqui falamos muito das exportações da Embraer —, até porque o Brasil também importa muitas partes e componentes dos Estados Unidos para a construção desses aviões que são, depois, exportados para os próprios Estados Unidos. Nesses casos, vemos, sim, possibilidade de alguma acomodação por parte do governo americano, porque, senão, o reflexo é ruim para a economia americana — em termos de preço e mesmo disponibilidade desses itens, porque não tem fornecedor muito claro alternativo para conseguir arcar com esse montante todo que o Brasil exporta para os Estados Unidos. Então isso favorece, sim, discussões mais específicas.”, finaliza Alessandra.

Confira a entrevista completa abaixo!