Após ano de surpresas positivas, economia deve desacelerar em 2024 – Canal UM BRASIL
- Na Mídia
- 12/12/2023
- Tendências
Em entrevista ao Canal UM BRASIL, Alessandra Ribeiro, Sócia e Diretora de Macroeconomia e Análise Setorial da Tendências, comenta sobre a economia brasileira em 2023 e aponta perspectivas para o ano que vem.
O que trouxe a perspectiva mais positiva na economia ao longo de 2023?
O mercado, de forma geral, começou cauteloso em relação às projeções de crescimento e de inflação também. Estamos terminando o ano com notícias mais positivas nessas áreas.
Do lado do crescimento, tivemos algumas surpresas, como o setor agropecuário, que foi muito mais forte do que se imaginava inicialmente. No final de 2022, já existia uma visão de que seria um setor forte, mas é fato que veio mais do que o imaginado. E essa melhora do agro gera tanto efeitos diretos como indiretos, que afetam diversos segmentos, como a indústria, serviços, transporte, armazenagem e outros.
A própria resiliência global foi um elemento que afetou o nosso mercado. “Economia americana com melhores notícias em relação ao esperado, revisões positivas também por lá. O mesmo para a Europa, que não sofreu tanto com a crise energética como se imaginava.”, aponta Alessandra.
Outro elemento importante foi o aumento real do salário mínimo e de gastos públicos, que afetam, também, a dinâmica de consumo de bens e serviços.
“Isso tudo junto explicou realmente essas sucessivas revisões. Hoje, a projeção da Tendências é que a economia deve crescer 2,7% em 2023, ou seja, um número muito mais próximo de 3% que o 1,5% que se falava inicialmente”, diz Ribeiro.
O fim de 2023 ainda conta com a economia aquecida?
A gente já percebe uma perda de dinamismo. Inclusive nós esperamos uma ligeira queda do PIB em relação ao segundo trimestre. Então, a economia está perdendo tração, tanto nos resultados do terceiro trimestre quanto no quarto.
“Essa ajuda do agro tão forte sai de cena, a gente vê já um cenário de agropecuário relativamente estável para 2024.”, aponta Ribeiro. “Tem a questão sazonal, mas também tem a questão do menor crescimento do agro. A gente espera que a produção agropecuária fique relativamente estável em relação a esse ano. Mas é importante dizer que é relativamente estável, mas o nível de produção agropecuária é muito alto, o maior patamar da história. Então, o nível é alto, mas, em termos de crescimento, essa ajuda vai ser bem menor em 2024. E aí tem a base de comparação mesmo, o nível alto de produção e também os efeitos do El Niño.”.
Quais são os pontos de mais otimismo e os alertas para 2024?
Já entramos em 2024 com o crescimento mais fraco. Então, essa perda de dinamismo que estamos observando agora também veremos no começo do ano que vem. Todos os elementos, como a questão global, efeito de política monetária e o PIB agropecuário que fica relativamente estável esse ano pesam, causando a desaceleração.
Mas, apesar disso tudo, ainda existem pontos positivos e importantes no cenário econômico para o ano que vem, como a continuidade da desaceleração da inflação em 2024, que já surpreendeu na queda maior que as projeções do começo do ano.
“É fato que tiveram vários elementos que ajudaram a inflação esse ano também, como a queda de commodities, a normalização das cadeias globais de produção e o próprio efeito da política monetária, apesar de algumas pressões significativas, como a recomposição de imposto que a gente teve para combustível, por exemplo, que foi muito intenso.”, aponta Ribeiro.
Como os gastos do governo impactam a economia em um ano de eleições?
É esperado que os gastos do governo sigam crescendo em 2024, ano de eleições municipais. É um contraponto à desaceleração, podendo ser mais forte do que o imaginado, mas já está na conta.
“Os gastos vão ser maiores, dado todo esse contexto político para o ano que vem. Mas qual é o risco dessa história toda? Já temos um cenário fiscal extremamente difícil, o governo ainda sustenta a meta de resultado primário do governo central em 0. Temos a avaliação de que é muito difícil chegar perto de 0, fazendo revisões negativas para o resultado primário do ano que vem, com 0,8% do PIB negativo.”, diz Alessandra. “O risco dessa história é começarmos a ver novamente a discussão de uma política fiscal não sustentável, com riscos para a sobrevivência do próprio regime fiscal, que é o arcabouço fiscal.”.
“Tem uma outra agenda que é importante e também está no colo do Ministério do Planejamento que é a de revisão de alguns gastos, inclusive sociais, para ter realmente gastos mais eficientes e focados. É uma agenda muito positiva, apesar de ainda ter andado pouco.”, diz Ribeiro.
Qual a avaliação primária da Reforma Tributária?
Em linhas gerais, no ponto de vista de Alessandra, não foi a reforma ideal, principalmente quando olhamos regimes específicos e exceções, apesar de existirem muitos que fazem sentido técnico quando a gente vê especialistas de IVA discutindo a aplicabilidade do imposto.
“Muitos casos, do ponto de vista técnico, fazem todo o sentido, mas a gente passou um pouco dessa medida e temos um número maior de exceções e regimes específicos que vai custar uma alíquota média do IVA mais alta, a mais alta do mundo.”, diz Ribeiro.
“Não é ideal, mas, ainda assim, os pilares principais do IVA foram mantidos, como a tributação no destino, a ampla base de incidência, a uniformidade na legislação e nas regras, a não cumulatividade… Então são pontos realmente importantes da Reforma que nós avaliamos, com base em estudos internos e experiências internacionais, que isso vai trazer efeitos para a economia brasileira ao longo do tempo.”.
Confira a entrevista completa no vídeo abaixo!