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Analistas projetam mais um ano de pressão dos alimentos sobre inflação – O Estado de S. Paulo

Aumento de preços deve ser maior no caso da carne, do café e do açúcar; IBGE divulga hoje IPCA fechado de 2024

A expectativa de alta de preços de produtos agropecuários que entram na cesta básica deve continuar a pressionar a inflação de alimentos neste ano. Segundo analistas de mercado ouvidos pelo Estadão/Broadcast, carne, café e açúcar são as commodities que mais preocupam quanto à pressão inflacionária em 2025. O movimento tende a repetir o que já foi observado no ano passado, com uma inflação de alimentos resistente – com impacto sobre o ciclo de corte de juros.

Na prévia do IPCA de dezembro (IPCA-15), os preços de alimentação e bebidas aumentaram pelo quarto mês seguido. O grupo saiu de uma elevação de 1,34%, na prévia de novembro, para alta de 1,47% no mês passado, resultado numa contribuição de 0,32 ponto porcentual para a taxa final de 0,34% do IPCA-15 no período.

O índice fechado de inflação em dezembro será divulgado hoje cedo pelo IBGE. De acordo com pesquisa feita pelo Projeções Broadcast, a mediana das estimativas no mercado aponta para variação de 0,53%, o que levaria o total em 2024 para 4,84% – acima do teto da meta oficial de inflação, de 4,5%.

O principal impacto da aceleração da inflação de alimentos deve vir das proteínas animais, afirma a analista da Tendências Consultoria Gabriela Faria, economista responsável por agropecuária e biocombustíveis. “A inflação será impulsionada pelo aumento expressivo dos preços das carnes, estimado em pelo menos 16,6% no valor pago ao produtor, com repasse à indústria e ao consumidor”, diz.

Café e açúcar também devem contribuir com uma inflação de alimentos mais forte por conta da menor produção, segundo a economista. Em contrapartida, do lado dos grãos, o efeito dos preços sobre a inflação tende a ser neutro, sem expectativa de altas acentuadas nas cotações de soja e milho.

A Tendências projeta aumento de 9,1% no grupo alimentos no IPCA de 2024, e de 6,2% para 2025, com viés de alta. Gabriela cita também o óleo de soja o leite e as “commodities softs” (como são chamadas as que são cultivadas, e não extraídas) como itens de atenção quanto a potencial inflacionário neste ano, além de hortaliças, frutas e verduras, com maior suscetibilidade a variações climáticas e peso relevante na cesta básica.

Hortifrutis

O momento é de atenção também sobre o desenvolvimento das lavouras de hortifrutis, afetadas pela seca histórica do ano passado, diz o gerente da consultoria Agro do Itaú BBA, Cesar de Castro Alves. “É preciso observar o acumulado de chuvas nos próximos dois meses e os efeitos sobre a produção de hortifrutis, que, apesar da rápida recuperação das lavouras, podem ter pressão momentânea sobre inflação em caso de perdas”, destaca Alves.

Ele concorda com os demais analistas que as proteínas e as commodities softs são os produtos mais preocupantes quanto à pressão inflacionária. “A alta do café ainda não foi repassada ao varejo, e poderemos ter novas máximas históricas. Dos produtos básicos, o trigo vai depender muito do dólar, já o arroz tende a ter uma ótima safra e o feijão deve ficar com produção dentro da média”, acrescenta.

O sócio-diretor da consultoria MB Agro, José Carlos Hausknecht, observa que o câmbio será determinante para a inflação de alimentos neste ano. “Se o dólar se mantiver acima de R$ 6, a pressão sobre a inflação de alimentos será maior, levando a uma política monetária mais restritiva. Do ponto de vista fiscal, o mercado não vê firmeza nas medidas do governo, o que gera incerteza e, somando aos preços sustentados de commodities agrícolas, se reflete em maior pressão sobre inflação”, avalia.

Preços

Em relação aos preços dos principais produtos agrícolas no mercado doméstico, os analistas projetam movimentos distintos no ano. Enquanto as carnes tendem a subir dois dígitos e as commodities softs devem manter o atual patamar, os grãos podem apresentar cotações menores. Isso estaria ligado à supersafra brasileira de grãos, estimada em 322,42 milhões de toneladas no mais recente levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), e ao menor crescimento econômico projetado para a economia global.


Em comum entre as commodities, a principal incógnita na formação de preços é o fortalecimento do dólar, que afeta a competitividade das exportações brasileiras e a paridade interna de preços.