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Análise das eleições municipais em SP e no Brasil – É Notícia

Em entrevista ao programa É Notícia da RedeTV, o sócio e responsável pela análise de risco político da Tendências, Rafael Cortez, comenta sobre as perspectivas para as eleições municipais em 2024.

De acordo com uma análise do panorama geral das eleições na cidade de São Paulo, elas estão muito mais emocionantes do que qualquer um poderia prever. Me parecia que era um cenário mais tranquilo em relação à disputa para o segundo turno, basicamente porque a esquerda saiu mais unida.

Cortez diz que o PT apoiou o Boulos como projeto reflexo do lulismo na corrida eleitoral e havia uma dificuldade maior para o prefeito da cidade, Ricardo Nunes, porque a direita parecia estar mais fragmentada.

Num primeiro momento, parecia que Nunes e Boulos eram os candidatos para o segundo turno. Eis que chegou Pablo Marçal, dá uma sacudida na campanha e traz não só uma perspectiva de um resultado diferente do que se esperava, mas também uma mudança nas leituras sobre a política brasileira em meio a um cenário de polarização e que é relevante voltar os olhos para São Paulo em 2024.

O “fenômeno” Pablo Marçal

Cortez acredita que seja necessário um olhar político para o impacto que isso vai ter do ponto de vista da política nacional e quais as chances disso se tornar um primeiro passo para algo eventualmente maior. Também seria necessário fazer toda a leitura política da relação dentro da direita com o bolsonarismo.

Além disso, Cortez destaca a dimensão mais sociológica desse fenômeno. Ele relembra que, sobretudo a partir de 2020, mas com mais força em 2022, havia uma leitura de que teria passado o momento das forças que chamamos de outsiders – políticos fora da tradição – e que teriam um menor peso na campanha, por conta do tempo de TV e, sobretudo, do dinheiro público, que era mais concentrado na mão dos líderes partidários.

Isso fazia com que a chance de novos outsiders, novos Bolsonaros, tivesse diminuído. Até porque Bolsonaro aderiu ao sistema e se filiou a um partido que se tornou o maior do país em número de deputados, o PL.

Cortez diz que  Bolsonaro personifica muito essa ideia de que vale a pena fazer política tradicional. Entretanto, Pablo Marçal foi um dos que mostraram que ainda haveria espaço com um eleitorado que aceita um discurso disruptivo, em relação não só à classe política, mas também às políticas públicas. Então, vemos propostas razoavelmente exóticas em comparação ao que a comunidade acadêmica e científica estava pensando. Isso teria a ver com um caldo de falta de legitimidade das forças políticas tradicionais.

Quando questionado se ainda existe um voto de protesto, de revolta, um voto anti político muito arraigado na sociedade e se essa força é maior do que podemos dimensionar, Cortez diz que os números estão mostrando que sim.

“É um crescimento muito expressivo em um curtíssimo espaço de tempo, seguindo uma receita que parecia, se não datada, mas que parecia um pouco de lado. Então, é uma candidatura sem recurso tradicional que está crescendo.”

Cortez acredita que a grande questão da política nacional é que passamos por um desmanche do que tínhamos como direita, com o PSDB. Veio a figura do Bolsonaro, que alterou o modus operandi com discurso antipolítica, mas aos poucos foi cedendo para o centrão. Então, ele foi para o PL e tentou fazer política mais tradicional e agora estamos falando de outro nome.

Ao ser perguntado sobre Pablo Marçal ser uma ameaça a hegemonia do bolsonarismo na direita, Cortez diz que ele tem que ameaçar, porque Bolsonaro não tem direito político nesse momento, mas tem herdeiros políticos. E Marçal bagunça todo o cenário.

Pablo Marçal se diferencia porque dialoga mais com a questão redistributiva e a riqueza, mostrando como as pessoas podem prosperar, com o espírito de que o Estado faz mal. Sua carreira profissional é a da figura do coach, que coloca a responsabilidade no indivíduo. A ideia é que o sucesso depende das características pessoais e não do Estado ou das políticas públicas.

A campanha de Pablo Marçal chama atenção para o empreendedorismo e a ideia de que o Estado não é tão importante. Ele participa mais da discussão econômica do que o bolsonarismo original, que se mobilizou com discursos diferentes.

Olhando para outras campanhas, a forma como respondem ao fenômeno do Pablo Marçal é relevante. Tabata Amaral foi a única que se colocou de forma mais dura e combativa, tentando desconstruir o personagem Marçal. Outros candidatos, como Nunes e Guilherme Boulos, ainda não conseguiram produzir uma resposta efetiva.

O descompasso é grande, com Boulos tentando enfatizar o programa e Marçal não fazendo isso. Tabata precisou desse choque, mas as pesquisas mostram que o capital político de Boulos e Nunes não estão tão seguros assim. As campanhas podem precisar de uma resposta mais à altura do “fenômeno” Pablo Marçal.

Eleições municipais pelo Brasil

Apesar de uma campanha em São Paulo com três atores políticos praticamente empatados, nos outros lugares os “padrinhos políticos” Lula e Bolsonaro não parecem ter tanta força para colocar candidatos no poder, como é o caso do Rio de Janeiro e Belo Horizonte, por exemplo.

Cortez diz que algo que a gente já deveria tomar como dado é que o eleitor não tem dono. Essa é uma imagem que parece que exagera bastante a força política dos chamados padrinhos políticos. Ela não aparece na hora de buscar o voto do eleitor, que não tem como principal motivação essa indicação.

Quando questionado sobre o que a disputa em 2024 aponta para 2026, Cortez diz que a direita  está crescendo e o governo Lula precisa, na metade final do mandato, repensar a sua base de apoio.

Cortez acredita que as eleições de 2026 serão muito competitivas e o governo precisa, entre aspas, acordar e fazer com que a metade final do seu mandato seja uma metade final de quem, de fato, quer ser governista. 

Também é importante ficar de olho em Bolsonaro, em como ele vai construir e que influência vai ter na reconstrução da direita, dado que perdeu seus direitos políticos. Cortez imagina que Tarcísio fique um pouco mais relutante em relação a sair do governo de São Paulo e tentar uma disputa presidencial a menos que ele, realmente, dialogue e vire parte de Pablo Marçal. Mas eventualmente Pablo Marçal seria o seu rival. Então agora ele ganhou, pelo menos, uma outra sombra. Tudo isso ainda somado a um Tarcísio mais relutante a sair do governo de São Paulo pensando em outros voos lá em 2026.

Confira a entrevista completa no vídeo abaixo!