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Análise da situação política entre Brasil e EUA – CNN Brasil

Em entrevista à CNN Brasil, o economista Rafael Cortez, da Tendências Consultoria, comenta a atual situação política entre Brasil e Estados Unidos

Sobre a possibilidade de vislumbrar a resposta que o Estado brasileiro pretende oferecer aos EUA, Cortez diz que dá para esboçar algumas linhas de atuação com base no discurso de política externa do presidente Lula e nos limites do governo brasileiro.

Ele explica que a tendência é oferecer uma resposta que evite escalada e novas retaliações, sobretudo na área comercial. Pelas primeiras reações, percebe-se que o presidente e o governo se saíram bem, inclusive obtendo exceções mais amplas do que o esperado.

Cortez diz que, assim, é provável que o Brasil recorra a organismos multilaterais, em uma defesa cirúrgica do Judiciário e das instituições, mantendo abertos os canais de negociação. O desafio, aponta Cortez, é executar essa estratégia, pois a justificativa para essa crise pode ir muito além de Bolsonaro, Moraes ou casos pontuais — podendo fazer parte de uma estratégia americana de longo prazo em relação ao regime brasileiro.

Interferência de Trump no Brasil

Cortez explica que, se a palavra utilizada for “mudar regime” — e aí, entendendo por regime democrático — a coisa pode ficar ainda pior. Já vimos isso em alguns outros lugares, em uma tentativa dessas figuras expoentes desse conservadorismo — e muito filiado ao governo Trump — de, se não influenciar diretamente, pelo menos repercutir temas políticos em diversos países, independente de geografia e de nível de desenvolvimento.

O grande problema é se realmente tiverem alguma visão ainda mais ambiciosa. Nós estamos falando do regime democrático, e aí entra a questão de reconhecimento de resultado eleitoral e qual será o olhar que o governo americano vai ter pro processo eleitoral brasileiro de 2026.

Cortez acredita que estamos, no fundo, tentando delinear cenários para o que pode interromper esse processo. Já vimos que não vai ser fácil, até porque pelo menos vai ter mais material, como o julgamento do ex-presidente Bolsonaro e, seja ele ou não só o bode expiatório, isso possivelmente abre as portas para uma nova rodada de ações nessa direção.

Ele diz que, levando a sério o que estamos aprendendo agora desses ideólogos americanos, ou pelo menos daqueles próximos à Casa Branca, em relação ao Brasil, basicamente estamos falando sobre como é que eles vão lidar com a eleição de 2026, o que não é propriamente uma novidade, porque quando Lula ganhou no último mandato, os Estados Unidos, aí sob Biden, rapidamente já reconheceram os resultados, muito provavelmente uma jogada combinada. Muito possivelmente, em 2026, a depender do resultado, teremos mais um choque.

Jogo das forças políticas brasileiras

Cortez diz que, do ponto de vista do governo, o desafio é fazer algo que não foi feito no início do mandato Lula, do ponto de vista da política externa, em que foram reconstruídas pontes que o bolsonarismo não destruiu nos quatro anos, pensando no contato com a comunidade internacional por diversas razões — China, Argentina, Estados Unidos sob o governo Biden e aí por diante.

O movimento que o Brasil fez em relação à vitória de Trump, foi muito tímido. Certamente não houve nenhum aceno para evitar, olhando do governo, que a mensagem que chega com mais força na Casa Branca seja a mensagem oficial e não uma mensagem de articuladores não oficiais, independente até da ideologia, que é o que acabou acontecendo, em alguma medida, por conta de uma porteira aberta.

Eleições de 2026

Cortez diz que tem dúvidas sobre para qual lado os governadores, que são os candidatos a “personificar o antipetismo” em 2026, irão. Vimos Zema e Tarcísio dando acenos para o tema da anistia, por exemplo. Cortez acredita que isso será fundamental, porque cada vez mais eles precisarão se resolver desse ponto de vista: vão fazer um investimento em realmente deixar de lado esse bolsonarismo — e aí não só o apoio formal, mas teses relacionadas — ou não se sentirão seguros de disputar 2026 sem uma espécie de bênção, apoio ou qualquer palavra que a gente queira dar, do ex-presidente Bolsonaro e do núcleo familiar.

Essa é a chave, de acordo com Cortez, porque, em alguma medida, os americanos estão olhando 2026 a partir do que vai acontecendo entre esse jogo do governo e da oposição. Tem um espaço amplo para um discurso de maior união aqui dentro, mas Cortez se preocupa ainda com o papel da oposição e de quem vai disputar contra o governo Lula. 

Confira a entrevista completa no vídeo abaixo!