Alimentos devem puxar recuo da inflação: Entrevista com Silvio Campos Neto – GloboNews
- Na Mídia
- 27/10/2023
- Tendências
O IBGE divulgou hoje o IPCA-15 de outubro. Alimentos e bebidas, artigos de residência e comunicação devem puxar o índice para baixo. Entretanto, por conta das condições climáticas e o El Niño, o setor de alimentos pode ser afetado, então é preciso ficar de olho. Transportes, habitação e despesas pessoais, em contrapartida, devem puxar a inflação para cima.
“A inflação tende a permanecer bem comportada neste momento. Um dos fatores, o principal deles, é o bom comportamento dos preços dos alimentos neste ano. Tivemos uma supersafra, tivemos um aumento na oferta da parte de carnes, redução de custos depois daqueles picos que tivemos em 2021 e 2022, na somatória de pandemia com guerra. Tudo isso pesou muito na parte de preços de alimentos. E isso tem sido revertido do ponto de vista global e aqui no Brasil também.”, aponta Silvio Campos Neto, economista e sócio da Tendências.
“A curto prazo, não vemos nenhuma mudança significativa nesse comportamento, mas é claro que, olhando para 2024, há pontos de incerteza: não só a questão do conflito mais recente, que pesa no petróleo, a própria questão dos alimentos, do o fenômeno do El Niño, que sempre gera dúvidas em relação ao comportamento desses preços. E, por aqui, também, preocupações com estímulos fiscais creditícios num contexto de menor ociosidade econômica. Então, são situações que geram preocupações para o ano que vem, mas que, ainda assim, não devem impedir que a inflação no próximo ano também seja um pouco mais baixa do que temos previsto para este ano.”, complementa Campos Neto.
Campos Neto ainda diz que, quando se fala em teto da meta, para este ano de 2023, algo que parecia difícil e improvável, agora se mostra bem mais provável, que é a inflação ficar abaixo do teto da meta. “Lembrando que, este ano, temos uma meta de 3,25% com teto de 4,75% que, ao menos na nossa projeção agora para o IPCA, é de uma inflação acumulada neste ano em 4,6%. Se estivermos certos, teremos cumprido a meta de inflação, pelo menos no limite da banda neste ano de 2023.”.
Quando questionado sobre as aprovações que o governo está fazendo e se dá para antecipar a visão do Banco Central, Campos Neto aponta que, em relação ao que se esperava no início do ano, houveram avanços, como o próprio arcabouço que, mesmo não sendo o ideal, limitou preocupações com gastos descontrolados. “O fato é que teremos uma política estimulativa, do ponto de vista fiscal, nos próximos anos. Os gastos vão crescer em termos reais e este é um ponto, sem dúvida nenhuma, de preocupação por parte do Banco Central. É claro que o governo tem feito um esforço junto ao Congresso, para elevar suas receitas e, de certa forma, buscar um reequilíbrio fiscal, mas sabemos que é uma agenda difícil.”.
“É sempre importante destacar que a economia brasileira vem surpreendendo ao longo dos últimos tempos. O ano de 2023 será o terceiro ano seguido onde o desempenho econômico será maior do que se esperava no início do ano. Também é fato que há uma expectativa de desaceleração que já é captada pelos últimos indicadores. Esse ano, em particular, tivemos um impulso importante no começo do ano, da supersafra agrícola, que espalha os efeitos por outros setores também, como serviços e indústria. (…) O consumo contou com um impulso, também, do ponto de vista de retomada de benefícios sociais, no aumento do salário mínimo. Mas são efeitos que tendem a se dissipar com o tempo e já notamos na margem uma perda de fôlego. Por mais que tenhamos a expectativas de um crescimento ainda importante em 2023, sem dúvida nenhuma a perspectiva para 2024 é de uma desaceleração. Nossa projeção, por hora, para o crescimento do ano que vem é de 1,5%.”, diz Campos Neto.
“A questão fiscal foi encaminhada mas não está totalmente bem resolvida. Há um esforço, sem dúvida nenhuma, por parte do governo, em tentar avançar nessa agenda de recomposição de receitas, mas, ao mesmo tempo, também talvez não tenha havido o devido cuidado do lado das despesas. (…) Agora cabe esse esforço de tentar aumentar a arrecadação. Sabemos que não é simples, mas que existam medidas que estejam sendo colocadas junto ao Congresso, é uma agenda incerta. Por isso, que boa parte do mercado, eu diria quase a totalidade, não compram esse cenário de déficit zero, ainda que seja importante que o governo defenda essa tentativa e faça um esforço para chegar o mais perto possível disso. Nós aqui da Tendências trabalhamos com um déficit esperado de 0,6% do PIB do ano que vem, contando com o sucesso moderado dessa agenda de busca de receitas. Mas é um quadro fiscal muito indefinido ainda em virtude dessas medidas que estão sendo tomadas (…) e quando efetivamente isso se traduzirá em ganhos de arrecadação num contexto de desaceleração econômica.”, completa Campos Neto.
Confira a entrevista completa no vídeo abaixo!