Impasse no Congresso freia agenda do Planalto – CNN Brasil
- Na Mídia
- 02/10/2025
- Tendências
Em entrevista ao programa WW da CNN Brasil, Rafael Cortez, sócio e economista da Tendências Consultoria, comenta o cenário atual da política brasileira
O impasse sobre a anistia congelou a agenda do Planalto. Ao ser questionado sobre até quando a situação permanecerá assim, Cortez diz que não acredita em grandes mudanças, até para 2026, no ambiente legislativo. Ele pontua que algumas movimentações podem ocorrer, mas que alguns dilemas políticos devem permanecer os mesmos.
Ele mencionou o chamado, a grosso modo, “pacote da reeleição”, com medidas sociais econômicas e de segurança pública para explicar os dilemas de aprovação delas. O primeiro dilema, de acordo com Cortez, é a oposição: o quanto a oposição cooperaria com projetos que, na verdade, ajudariam na reeleição de Lula? O segundo dilema é sobre aumentar ou não a carga tributária e quem teria mérito nessas questões, sobretudo no projeto do Imposto de Renda. Cortez ainda pontua que é preciso somar tudo isso à tensão institucional atual.
Anistia
A pergunta que se impõe é a seguinte: quem está, na verdade, costurando o quê? Com qual força política, no sentido da anistia, quando falamos da Câmara?
Cortez diz que, por ora, é só descoordenação. Ele acredita que o segredo, para eventualmente tentarmos entender o que essas forças efetivamente querem, tem um pouco a ver com o plano eleitoral de 2026.
Ele pontua que existe um certo paradoxo na ideia da anistia, uma vez que, se Tarcísio é o candidato do centrão — e ele parece ser o nome para enfrentar a provável campanha de reeleição do presidente Lula —, isso significa que é bom que o ex-presidente Bolsonaro não tenha qualquer possibilidade de ser candidato.
Cortez diz que, às vezes, tem uma sensação de que se trata de uma espécie de grande jogo de cena, em que o objetivo principal é ir consolidando esses nomes do centrão, associando-os a bandeiras caras ao bolsonarismo. Assim, uma vez que, evidentemente, não deve ser aprovada essa versão mais ambiciosa da anistia, eles acabam usufruindo, em tese, desses dividendos políticos, pensando já em 2026.
A chave que falta, de acordo com Cortez, é o comportamento do Eduardo Bolsonaro, que, lá de fora, também ajuda a bagunçar esse cenário.
Cortez acredita que os parlamentares vão deixar de lado toda essa celeuma quando for preciso tratar do orçamento. Ele diz que ninguém vai querer entrar em 2026, ano eleitoral, com um orçamento completamente desfigurado — que é como está agora.
Dessa forma, Cortez analisa que boa parte da agenda do governo, se não andar, para eles também não tem grande custo. Se, por exemplo, o projeto da reforma do Imposto de Renda não for aprovado até este ano, ele nem teria base legal, pelo princípio da anualidade.
O que parece ser fundamental para os parlamentares é o momento da discussão do orçamento. Eles já estão, na verdade, se movimentando para que o orçamento de 2026 venha com uma espécie de calendário de execução de emendas concentrado fora do período da legislação eleitoral. Até lá, Cortez não vê grande incentivo.
Tarcísio como candidato da direita
De acordo com Cortez, não, e está longe de ser definido. Ele acredita que é importante para o Planalto ter essa espécie de interlocução e polarização com o Tarcísio, porque, se realmente ele vier, é um nome que tem capital eleitoral para ser mais competitivo.
Cortez acha interessante que, quando o ministro dos Transportes, Renan Filho, faz uma manifestação nas redes sociais para polarizar com o Tarcísio, isso mostra que, de alguma maneira, mesmo que o Planalto ainda tenha alguma dúvida, faz sentido esse movimento — ao menos para dificultar que a rejeição ao Tarcísio fique muito separada da rejeição ao Bolsonaro.
Então, quanto mais o Tarcísio se expõe a essa agenda da anistia, pelo menos na minha leitura, mais ele se aproxima do bolsonarismo e talvez em um patamar que o inviabilize para 2026.
Confira a entrevista no vídeo abaixo!
https://www.youtube.com/watch?v=VbLYn2GjMzQ