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Julgamento de Bolsonaro e o xadrez eleitoral com Lula e Tarcísio – Seu Dinheiro

Em conversa com o canal Seu Dinheiro, Rafael Cortez, sócio e economista da Tendências Consultoria, analisa o julgamento de Bolsonaro e os impactos no xadrez eleitoral com Lula e Tarcísio. Afinal, o que esperar do futuro político do Brasil?

Sobre a perspectiva do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no STF e como ela pode reconfigurar o tabuleiro político para as eleições de 2026, Cortez diz que  existe esse efeito de curtíssimo prazo, que veio a partir de um somatório de situações – porque não é só o julgamento, que já estava mais ou menos contemplado dentro do radar da Tendências.

Cortez diz que o que vamos precisar entender melhor agora é o efeito dessa conexão criada entre o julgamento do ex-presidente Bolsonaro e as relações bilaterais Brasil e Estados Unidos.

De acordo com  Cortez, essa é a grande novidade da cena política brasileira, que vai impactar quem serão os candidatos, que tipo de discurso vai ser apresentado, qual será a estratégia desse antipetismo à luz desses eventos, e, pensando no médio e longo prazo, obviamente, no resultado final da eleição.

Como estava mais ou menos esperado, a condenação do ex-presidente levantava a seguinte pergunta: quanto tempo e quem o ex-presidente Bolsonaro iria apoiar em 2026.

Cortez explica que existem dois tipos de leitura: a primeira vê a condenação do ex-presidente como um sinal de um destino político em que ele se torna cada vez mais irrelevante, e todo esse movimento seria só uma tentativa de evitar ou atrasar um cenário já dado, ou seja, a perda de relevância.

A segunda corrente, à qual Cortez acredita mais, ainda vê um efeito importante do ex-presidente no processo político, mesmo que essa condenação se confirme. Ele acredita que Bolsonaro, junto com Lula, são os dois únicos nomes que podem se dar ao luxo de carregar o adjetivo “popular” junto a eles, e isso por si só traz um ganho super importante.

Com isso, Cortez diz que existia a seguinte pergunta: quem ele apoiaria e quando viria esse apoio? No radar de Cortez, ele demoraria o máximo possível para anunciar, porque essa é a sua estratégia política de se manter relevante. E ele se mantém relevante quando é percebido como o rival do petismo. Esse status é muito importante para o Bolsonaro e para quem quer que vá fazer oposição.

Isso coloca um dilema para os possíveis substitutos do Bolsonaro, já que ele não tem os direitos políticos. Demoraria para entrar no jogo, porque Bolsonaro seguraria esse espaço e ninguém gostaria de enfrentá-lo, gerando custos políticos.

Cortez ressalta que a questão sobre a luta pela anistia, que agora apareceu forte, não é sinônimo de Bolsonaro elegível. Mesmo que hipoteticamente passasse e o Supremo autorizasse, ele já é inelegível pela Justiça Eleitoral por outros crimes que não estão relacionados ao julgamento atual.

O efeito disso é essa novidade das relações Brasil–EUA, que apressou a direita na escolha de um candidato. É por isso que temos visto o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, aparecendo mais e se manifestando em temas do debate público. Isso tem a ver com esse senso de urgência que bateu à porta da direita após os desdobramentos recentes, de acordo com Cortez.

Tarcísio como candidato em 2026

Cortez vê as ações de Tarcísio tendo um pouco a ver de uma insegurança dele na relação do seu capital político com o bolsonarismo como um todo, porque percebeu que o bolsonarismo olha a sua candidatura com desconfiança. Não é uma leitura de que Tarciso representa o bolsonarismo, pelo contrário, pelo menos para o núcleo familiar em torno do ex-presidente. Para eles, Tarciso representa uma tentativa da elite política em afastar o protagonismo do bolsonarismo.

De acordo com Cortez, Tarcísio sabe que é muito difícil o Supremo Tribunal Federal “reverter” essa inelegibilidade de Bolsonaro. Então ele, se ele está consciente disso, pode fazer essa essas manifestações públicas sabendo que não vai dar em candidatura do Bolsonaro direto. 

A questão que Cortez diz que precisa ser analisada é qual o custo dessas aproximações, porque, por outro lado, quanto mais ele reforça essa associação, mais ficará ligado ao que o bolsonarismo tem no imaginário das pessoas, para o bem ou para o mal.

E com essa celeuma do conflito Brasil e Estados Unidos, o fato de que tem uma parte da família Bolsonaro, em particular Eduardo Bolsonaro, que explicitamente advoga por tudo que tá acontecendo, ele mesmo explicitamente se coloca nessa posição e, ao fazer isso, parece estar aumentando a rejeição ao bolsonarismo, justamente no momento em que o Tarciso quer se vincular a esse grupo.

A direita nas eleições de 2026

Cortez diz que, apesar desse cenário mais fragmentado, as eleições não devem vir com muitos candidatos da direita competindo, porque está cada vez mais custoso lançar um candidato a presidente e o dinheiro da campanha eleitoral é orçamento público, que conta com verba limitada.

Apesar disso, Cortez acredita que existe, sim, a possibilidade de uma grande divisão da direita nas próximas eleições, que talvez não se traduza em candidaturas competitivas, mas surja da dificuldade de encontrar um denominador comum para evitar que disputas internas prejudiquem esse projeto.

Entretanto, Cortez ressalta que a rejeição a Lula ainda é muito alta e, mesmo com todos esses problemas, a direita tem muita chance de ganhar a eleição em 2026 por conta disso. O que se discute é que existe essa janela de oportunidades e o que está faltando para encontrar o verdadeiro discurso relevante.

Trazendo para o lado da política à luz do mercado financeiro e de precificação de ativos, a figura que vai aparecer como candidata talvez confirme a leitura do mercado sobre Tarciso ou eventualmente a afaste um pouco ao longo da campanha. E aí, de acordo com Cortez, os impactos econômicos, sobretudo no câmbio, que responde muito rápido, podem ser diferentes do que se imagina caso imaginemos um Tarciso muito competitivo em 2026.

Lula em 2026

Cortez diz que fatores políticos têm sido cada vez mais relevantes para entender o Brasil e o resultado das eleições. São esses fatores que, de alguma maneira, jogam um piso muito alto para a rejeição do Lula.

O cenário político e os eleitores são diferentes agora do que eram nos mandatos anteriores de Lula e há uma grande dúvida sobre o que ele traria de novo, principalmente pensando que a vitória dele em 2022 foi quase um ato anti bolsonarista, de acordo com Cortez.

Cortez costuma brincar dizendo que, para o governo ganhar a eleição, basta acontecer uma coisa: ele ter boa aprovação. Agora, para a oposição ganhar, precisam acontecer duas coisas: o governo atual ser rejeitado e a oposição mostrar um candidato competitivo, porque senão o eleitor, mesmo não gostando, por falta de opção e uma certa insegurança, continua votando no governo atual.

Impactos nos investimentos

Cortez começa com a parte doméstica. No cenário atual, temos uma economia com juro alto, fruto de um mercado de trabalho aquecido e a inflação já em patamares mais confortáveis do que já esteve. Nós temos também um juro real, descontada a inflação, bastante forte.

Ele levanta a questão: como é que a eleição fica à luz desse equilíbrio? Tem uma tendência de um câmbio mais depreciado do que os fundamentos econômicos autorizariam por uma série de razões, incluindo uma leitura de risco de continuidade do Lula. Com Tarcísio competitivo ou outro candidato da oposição competitivo, curiosamente teria uma leitura de um câmbio mais apreciado, porque o mercado, já esperando a vitória do Tarcísio, começaria um pouco a fazer aposta para esse cenário que ele deve enxergar melhor do que a continuidade do Lula.

Cortez diz que estamos repetindo a eleição de 22, com projeções muito polarizadas e que estão muito condicionadas a quem ganha eleição ou não. Ele acredita que é o câmbio que terá mais relevância: com a oposição indo bem, a tendência é do câmbio se apreciar ao longo de 2026.

Por outro lado, Cortez não imagina que os juros tenham muita relevância, pois acredita que o Banco Central tem operado de acordo com o regime de metas de inflação.

Cortez também diz que é preciso ser muito cauteloso com a ideia de que a eleição está ganha para um lado ou pro outro. Ele acredita que a eleição será definida no último mês ou até menos, apertada como foi a de 2022. Toda a especulação no momento  é uma espécie de ansiedade, porque não guarda fundamentos em movimento político.

O conselho que Cortez dá é: segurar a ansiedade em relação às leituras políticas que vão aparecer ao longo da campanha eleitoral.

Ele também menciona o cenário internacional, porque, a depender de como estiver os Estados Unidos, tudo pifa aqui no Brasil aqui pra gente tudo “pifa”.

Confira a entrevista completa no vídeo abaixo!