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Copom indica caminho para a política fiscal do governo Lula – UOL

Com linguagem suave e tom professoral, o parágrafo 11 da Ata do Copom se estende – mais do que nas atas anteriores – sobre os efeitos da política fiscal e a necessidade de harmonia com a política monetária: “Uma política fiscal que atue de forma contracíclica e contribua para a redução do prêmio de risco favorece a convergência da inflação à meta. Assim, o debate mais recente, com ênfase na dimensão estrutural do orçamento fiscal e na redução ao longo do tempo de gastos tributários, tem potencial de afetar a percepção sobre a sustentabilidade da dívida e de ter impactos sobre o prêmio da curva de juros”.

Esse seria o caminho positivo para o fiscal na visão do Comitê de Política Monetária. E casa com o plano do Ministério da Fazenda de apresentar, possivelmente essa semana, um projeto de lei para corte linear de 10% nos gastos tributários que, segundo contas recentes da Receita Federal, podem chegar a R$ 800 bilhões.

Caso contrário, a ata alerta para os efeitos deletérios do fiscal: “esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, aumento do crédito direcionado e incertezas sobre estabilização da dívida pública elevam a taxa de juros neutra da economia”. É quase um pedido de socorro. O governo precisa fazer sua parte ou o corte de juros vai demorar mais.

Alessandra Ribeiro, sócia e diretora de macroeconomia da Tendências Consultoria, enxerga como um recado claro do Copom. “Esse recado sobre o fiscal é a constatação de que há entupimento dos canais em que a política monetária faz efeito. O crédito subsidiado limita o poder da política monetária. É um risco para essa condução”.

Ela acrescenta que o tom duro do comunicado se mantém com ata. “Há argumentos sólidos para justificar a alta com resiliência da atividade econômica e riscos para a convergência da inflação à meta. Na nossa visão, os juros vão ficar parados até o começo de 2026 e começam a cair em janeiro, mas podemos prolongar esse prazo. Não vemos convergência tão clara e rápida da inflação para o Copom fazer esse movimento. A Selic deve chegar a 13% e ficar nisso até final do ano que vem”, arremata.

Já Roberto Padovani, do BV, vê de forma um pouco diferente. “O BC prepara o momento, a estratégia para afrouxar a política monetária, porque 15% é a mais alta em 20 anos. Me chamou a atenção a ideia de que o objetivo do Copom é saber se os juros correntes são suficientes para levar a uma inflexão na inflação. Essa frase abre espaço para o início de corte sem necessariamente atingir o centro da meta. Então ele percebendo, estando confortável com a convergência, pode começar a cortar juros. Achei nesse sentido um pouco mais ‘dovish’ (suave). Isso reforça nossa ideia de que em abril do ano que vem pode começar a cortar juros”, afirma.

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