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Oportunidades no Nordeste – O Estado de S. Paulo

Região retoma a segunda posição no ranking de consumo no País, uma evidência do potencial e dos desafios de Estados que ainda podem crescer muito mais

Um levantamento da consultoria IPC Maps, divulgado pelo Estadão há poucos dias, revelou que as famílias da Região Nordeste consumirão R$ 1,5 trilhão em 2025, ficando atrás apenas das famílias da Região Sudeste. Se isso se confirmar, o Nordeste trocará de posição com a Região Sul, que no ano passado respondeu por 18,57% do consumo brasileiro, ante 18,06% dos nove Estados nordestinos. Estima-se que neste ano o Nordeste responderá por 18,59% do consumo no País, e o Sul, por 18,51%.

Mais de um fator explica o aumento do consumo no Nordeste. E não se pode esquecer as trágicas enchentes que vitimaram o Rio Grande do Sul no primeiro semestre de 2024, reduzindo percentualmente o consumo da Região Sul como um todo. Ainda assim, é positivo que o Nordeste, que concentra o segundo maior contingente populacional do País – 54,6 milhões de habitantes, segundo o IBGE, atrás apenas dos 84,8 milhões que vivem no Sudeste – seja também a segunda maior região consumidora do Brasil.

Dado que a população nordestina é praticamente o dobro da sulista (29,9 milhões), seria natural que o segundo lugar em gastos fosse registrado por margem bem mais ampla. Não o é porque, como atestam diversos indicadores socioeconômicos, o Nordeste está em desvantagem em relação às outras regiões. A boa notícia é que a desvantagem relativa pode se converter em oportunidades. O saneamento básico é exemplo disso. De acordo com o IBGE, em 2023 apenas 50,8% dos domicílios do Nordeste estavam conectados à rede de coleta de esgoto sanitário. Investimentos nesse setor, bem como no de energia, devem fazer com que a região cresça a taxas superiores às das demais (3,2% entre 2027 e 2034, segundo a consultoria Tendências).

O Marco Legal do Saneamento Básico estabeleceu a universalização da oferta de serviços de água e esgoto tratados em todo o Brasil até 2033. Ainda que a esta altura já se saiba que a meta dificilmente será cumprida, é mais do que desejável não se afastar em demasia desse patamar civilizatório.

No caso do Nordeste, bastante atrasado nessa área, a universalização é fundamental não só porque estudos comprovam que a falta de saneamento básico prejudica indicadores de escolaridade e saúde das populações que não contam com esse serviço, o que prejudica a produtividade e onera o sistema público de saúde, como também porque a região tem enorme potencial turístico.

Dados do Ministério do Turismo mostram que, nos quatro primeiros meses de 2025, quase 160 mil estrangeiros desembarcaram nos aeroportos nordestinos, bem mais que os cerca de 100 mil turistas do exterior que visitaram a região no mesmo período no ano passado. Embora variáveis flutuantes, como o câmbio, desempenhem papel relevante nas escolhas turísticas, visitantes retornam ou recomendam destinos que ofereçam boa infraestrutura, para além de belos atrativos.

Infelizmente, algumas capitais do Nordeste, famosas por paisagens naturais exuberantes, têm índices de saneamento bastante baixos, o que, mais do que afugentar turistas, mantém a população local presa em um ciclo de subdesenvolvimento, o que é significativamente pior.

Esse ciclo torna a região bastante dependente de programas de assistência social, que, como os investimentos em projetos de energia, saneamento e o aumento do fluxo turístico, contribuíram para que o consumo das famílias da região superasse o das do Sul do País. Mais de um terço dos lares do Nordeste recebe Bolsa Família – a média nacional é de 19%. Importantes e necessários, os benefícios sociais cumprem o papel de atender a uma população que, por décadas, foi completamente negligenciada.

Remediar, contudo, não basta. É preciso mapear as deficiências da região, bem como as potencialidades não só em turismo, mas também em serviços, infraestrutura e tecnologia, entre outras, para que o aumento do consumo da população não seja apenas consequência de circunstâncias transitórias.

Rico em potencial, o Nordeste também tem ampla representatividade política. O atual presidente da Câmara dos Deputados e seu antecessor são nordestinos, assim como três dos últimos presidentes da República desde a redemocratização, o que só comprova que a região não apenas merece, como pode muito mais.

Reprodução. Confira o original clicando aqui!