Tendências Consultoria Econômica

  • Português
  • English
Edit Template

Petroleiras vivem ano fraco na bolsa brasileira em horizonte baixista para óleo – Capital Aberto

Brava e Petrobras lideravam lista de recuo das cotações até maio; desembolso da gigante com dividendos, contudo, deve ser similar ao visto nos dois últimos anos

As ações das petroleiras listadas na bolsa brasileira vivem desempenho fraco no ano, com baixas de preços num intervalo entre 3% e 17% entre 2 de janeiro e 14 de maio, a depender da companhia. Uma reversão do cenário para os próximos meses parece improvável, a menos que ocorra alguma reviravolta. É que os preços do petróleo – principal causa para o fraco desempenho setorial na B3 – dificilmente vão reagir num curto prazo, mesmo que as companhias tenham estratégias de negócios distintas. É, ao menos, a leitura de economistas e analistas consultados. Ainda assim, acionistas de duas delas têm recebido dividendos.

Levantamento da Economatica, feito a pedido da Capital Aberto, evidencia oscilações para baixo dos papéis das quatro companhias listadas na B3 em 2025 – além da gigante Petrobras, PetroReconcavo, PetroRio e a Brava (joint venture entre 3R Petróleo e Enauta). Considerados os preços entre 2 de janeiro e 14 de maio, quando concluído o material, as ações da Petrobras tiveram recuo de 12% (PETR3, para R$ 34,08 no dia 14) e de 10% (PETR4, para R$ 31,91). Enquanto isso, PetroRio caiu perto de 3%, para R$ 39,20 em 14 de maio; PetroReconcavo recuou 6,3%, para R$ 15,19; e, a maior queda, da Brava, foi de quase 17% no período, para R$ 19,58 o papel.

O principal impacto é o preço do petróleo, dizem analistas. Resulta de ambiente setorial com excedente de produção em relação à demanda, num momento de esperado enfraquecimento da economia global. Para as brasileiras há, ainda, o desafio do ambiente interno de juro elevado. Na Petrobras, gigante setorial, o lucro líquido de R$ 35 bilhões no primeiro trimestre de 2025, recém-divulgado e 49% maior que no mesmo período de 2024, não animou ou surpreendeu positivamente o mercado. É que investimentos e dívida também subiram.

Observado o pagamento de dividendos, a gigante recuou 16,6% entre janeiro e maio, quando desembolsou pouco mais de R$ 30 bilhões, sempre na comparação com igual período do ano passado. O desembolso de cada uma das listadas poderá subir ou não dependendo da estratégia de cada uma para o ano, disse Wendell Finotti, CEO da plataforma Meu Dividendo, autora do levantamento.

“A expectativa é que o dividend yield da Petrobras fique entre 13% e 16% ao longo de 2025, bem parecido com o que foi realizado em 2023 e 2024. Podemos esperar a continuidade dos anúncios de distribuição de proventos pela companhia nos próximos meses”, disse Finotti. Já a PetroReconcavo tem animado os investidores com o crescente volume de distribuição de proventos em anos recentes.

Segundo a Meu Dividendo, a PetroReconcavo bateu seu recorde de pagamento de proventos nos primeiros cinco meses de 2025 ao desembolsar mais de R$ 260 milhões aos acionistas. “A companhia está pagando mais dividendos devido a uma combinação de fatores: tem conseguido aumentar a produção, o que aumenta a rentabilidade e, consequentemente, a geração de caixa”, diz Finotti.

As informações elaboradas pela Meu Dividendo incluem a Brava Energia, que ainda não fez anúncio relacionado ao pagamento de proventos aos acionistas.

Petróleo é um setor com “certa resiliência”, mas, à parte disso (e dos modelos de negócios distintos que as listadas no Brasil apresentem), gestores de renda variável têm preferido ativos ‘mais promissores’ agora. Sobretudo de setores mais ‘defensivos’, a exemplo de bancos, seguradoras, energia e saneamento.

É uma leitura feita, por exemplo, na Blackbird Investimentos. “Não enxergo uma reversão tão grande para o setor. O cenário macro ainda continua desafiador para todo o segmento por conta da desaceleração global”, diz Gustavo Harada, head de alocação da Blackbird.

Apesar disso, continua Harada, a Petrobras não deixa de ser oportunidade entre os ativos setoriais. “A gente enxerga isso em relação aos dividendos e, também, é um ativo mais resiliente. Em relação aos múltiplos, ainda segue descontado”, diz o gestor da Blackbird. Para ele, pode haver algum impacto do cenário em dividendos, mais entre o final do terceiro trimestre e o início do quarto trimestre.

Tendência para o petróleo

Os preços de óleo têm tendência de baixa daqui para a frente pela alta produção global aliada à perspectiva de desaceleração econômica. Projeções das Nações Unidas (ONU) e do Banco Mundial para a economia do globo indicam alta anual de entre 2,5% e 2,7%, um patamar 0,4 ponto percentual abaixo da média vista em 2010 e 2019.

A ONU revisou o dado no último dia 15 de maio, quando reduziu em 0,4 ponto percentual sua projeção anterior, de 2,9%, devido à expectativa do risco para investimentos diante do cenário de crescimento lento. “Um dos pontos da revisão é o recente aumento nas tarifas de exportação e importação, que ameaçam os custos de produção e uma interrupção das cadeias de suprimentos globais”, diz o comunicado das Nações Unidas.

O barril do brent (referência na Europa e Ásia) poderá manter-se num intervalo entre US$ 60 e US$ 65 até, ao menos, o primeiro trimestre de 2026, projeta a Tendências Consultoria. Na sexta (16) fechou a US$ 65,31. Ontem variou perto desta cotação ao longo do dia, segundo a Investing.

Walter de Vitto, sócio da Tendências, reforça que o mundo vive um momento de  demanda mais modesta por óleo, enquanto, ao mesmo tempo, há expansão produtiva nos países extra-OPEP.

A OPEP, que reúne os principais produtores de petróleo no mundo, “ficou emparedada”. É que sua tradicional política de enxugar produção para ajustar oferta e demanda já não funciona, porque os países extra-OPEP estão ampliando sua produção. Esses atores ainda enxergam o preço do petróleo como lucrativo e, por essa razão, a oferta deve expandir-se significativamente neste ano.

“A tradicional estratégia da OPEP acaba ficando ineficaz”, continua de Vitto. Alguns tradicionais integrantes da organização, como Cazaquistão e Emirados Árabes, deixaram a política de lado, o que tem gerado divergências na OPEP.

O cenário setorial já tinha esse desenho antes de o presidente dos EUA, Donald Trump, adicionar volatilidade à economia global. “Se é dez ou trinta por cento de tarifa, o ponto é que a política norte-americana vai gerar menos crescimento econômico em curto e médio prazos”, finaliza o economista da Tendências.

Reprodução. Confira o original clicando aqui!