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Faturamento do varejo farmacêutico supera R$ 200 bilhões – Panorama Farmacêutico

Resultado recorde tem grandes redes e associativismo como âncoras, enquanto PMEs do setor desaceleram

O faturamento do varejo farmacêutico avançou 12,7% em 2024, ultrapassando pela primeira vez as cifras de R$ 200 bilhões. O montante chegou a R$ 220,9 bi, de acordo com indicadores da IQVIA. O crescimento, no entanto, foi heterogêneo. De um lado, o resultado recorde tem as grandes redes e o associativismo como âncoras, enquanto o pequeno e médio varejo registra forte desaceleração.

A análise de market share também sinaliza o período de consolidação por que passa o setor. A participação do grande varejo, representado essencialmente pelas associadas à Abrafarma, saltou três pontos percentuais de 2022 até o ano passado. Hoje, esse nicho responde por 47% da receita e teve incremento de 16% na comparação com 2023.

Em contrapartida, as farmácias independentes seguiram o caminho inversamente proporcional e hoje só formam 17% do faturamento, após um pífio crescimento de 6% em 2024. A diferença desses PDVs em relação às líderes do setor passou de R$ 43 bi para R$ 66 bilhões em dois anos.

As redes associativistas e de franquias apresentaram alta de 14%, enquanto as pequenas e médias varejistas também caminham rumo à estagnação, com aumento de apenas 6%.

Faturamento do varejo farmacêutico confirma resiliência

Alberto Serrentino, CEO da Varese Retail, avalia o faturamento do varejo farmacêutico como uma confirmação da resiliência do setor frente a outras atividades. “São resultados positivos que se repetem há anos e revelam uma capacidade de crescer em qualquer cenário’’, ressalta. “Diferentemente dos bens duráveis, em que as vendas caem em períodos de crédito mais difícil e caro, isso não ocorre nas farmácias”, acrescenta.

Dados do IBGE apontam que o avanço real do varejo farmacêutico no ano passado deverá ficar em torno de 15%. É o que antecipa a economista Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria. “Melhores condições de crédito a juros baixos e prazos mais longos, menor endividamento das famílias, mais vagas no mercado de trabalho e aumento dos rendimentos previdenciários colaboraram para essa alta. O consumo, em geral, cresceu 5%’’ frisa a executiva.

Envelhecimento da população e mais serviços

Serrentino atribui o êxito a fatores como a tendência mundial de envelhecimento da população e maior preocupação com saúde e qualidade de vida. ‘’São condições para um gasto proporcionalmente maior com saúde’’, esclarece. Alessandra vai mais fundo. ‘’O Brasil está ficando velho muito rapidamente. Quando falamos de farmácias, não é só remédio’’, lembrando itens de higiene, cuidados pessoais e dermocosméticos.

Além disso, o advento dos serviços farmacêuticos, com a realização de testes, imunização, aplicação de injetáveis e outros procedimentos clínicos, ajudam a transformar a operação e cativar mais clientes. “As farmácias estão se transformando gradualmente em hubs de saúde, beleza e bem-estar, o que confere mais relevância ao PDV’’, comenta.

Desaceleração da economia deve afetar setor

A projeção para este ano, porém, depende de variáveis como inflação, juros e câmbio, e incertezas nos cenários interno e externo. Serrentino aposta em um crescimento real moderado. Alessandra vê uma desaceleração da economia, com o Banco Central já subindo muito os juros, menor variação do gasto público e reflexos na geração de postos de trabalho, caindo de 3% no ano passado para 1,8% este ano.

Os efeitos da redução da renda e do consumo (de 5% em 2024 para 1,9% este ano) vão afetar o varejo farmacêutico, que deverá ter aumento real de 2,4% –  taxa bem inferior aos 15% previstos para 2024. ‘’Não dá para falar que é ruim, mas vamos perder ritmo em relação ao passado’’, conclui a economista.

Esta é, também, a perspectiva de Matheus Calvelli, cientista de dados e pesquisador da Stone, que prevê um avanço mais modesto do varejo farma este ano. Dados do Índice Varejo Stone (IVS) mostram que a categoria Artigos Farmacêuticos teve crescimento de 2,2% em janeiro de 2025, comparado a dezembro de 2024, e de 3,9% na análise janeiro 2025/2024. “O setor apresentou uma única queda anual ao longo de todo o 2024’’, assinala Calvelli.

Espaço para todos

A despeito de circunstâncias menos favoráveis, o varejo farmacêutico deverá seguir uma trajetória ascendente. Serrentino considera que há espaço para os diversos modelos de operação. ‘’Grandes redes seguem abrindo lojas, mas também há expansão nas cidades menores e no interior, a partir de operadores independentes e redes associativistas, como a Febrafar, permitindo uma convivência saudável entre os vários modelos de negócio’’, afirma.

De fato, segundo os dados da IQVIA, em metrópoles com mais de 1 milhão de habitantes, das vendas de R$ 65,9 bilhões em 2024, as grandes redes tiveram participação equivalente a 64,1% do total. O mesmo ocorreu em cidades grandes (300 mil a um milhão de habitantes) e médias (50 mil a 300 mil), nas quais o grupo mostrou força com, respectivamente, 55,9% das vendas de R$ 44,3 bilhões e 45,9% do total de R$ 66,9 bilhões.

Em contrapartida, em municípios com menos de 50 mil habitantes, a maior parte do faturamento de R$ 43,8 bilhões ficou dividida entre a Febrafar (32,1%) e as independentes (29,5%).

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