Galípolo inicia mandato no BC com aumento de juros: o que esperar da Selic até o fim do ano? – O Globo
- Na Mídia
- 30/01/2025
- Tendências
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Taxa é elevada para 13,5% ao ano e BC confirma novo aumento em março
Na estreia de Gabriel Galípolo no comando do Comitê de Política Monetária (Copom), o Banco Central (BC) elevou a Taxa Selic em 1 ponto percentual, para 13,25% ao ano em decisão unânime. O comitê, que conta com nove integrantes, agora tem sete indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Foi o quarto reajuste seguido dos juros desde setembro, o que significa alta acumulada de 2,75 pontos percentuais no período. Com a decisão, a Selic volta ao patamar de agosto de 2023.
O BC confirmou a sinalização de que pretende elevar a taxa em mais 1 ponto percentual em março, na próxima reunião, quando a taxa chegaria a 14,25% ao ano, retomando patamar registrado no governo de Dilma Rousseff.
“Diante da continuidade do cenário adverso para a convergência da inflação, o Comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, um ajuste de mesma magnitude na próxima reunião. Para além da próxima reunião, o Comitê reforça que a magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta”, diz trecho do comunicado.
Mas o comunicado deixa em aberto os próximos passos a partir de maio, sem indicar a magnitude dos ajustes, embora a expectativa seja a de que o ciclo de aperto continue.
Mercado espera que juros cheguem a 15%
No início desta semana, analistas de mercado já previam esse resultado. Entre os agentes ouvidos pela última pesquisa do Boletim Focus, do Banco Central, a previsão é de que a taxa básica de juros chegará a 15% até o fim do ano, com a inflação de 2025 em 5,5%. O número é um ponto percentual acima do teto definido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), em 4,5%, mesmo com uma política monetária mais restritiva.
A expectativa para a inflação em 2026 também foi revisada , agora em 4,22% (ante 4,10% na semana passada). Para o PIB, os investidores estimam o crescimento em 2,06%. Já para o ano que vem, o mercado vê a taxa de juro chegando ao fim de 2026 em 12,5% (ante 12,25% na semana passada), e o PIB a 1,72% (a previsão anterior era de crescimento de 1,77%).
Para 2027, o mercado ainda vê o juro em dois dígitos, em mediana de 10,38% ao ano, ante previsão de uma Selic a 10,75%. Há expectativa para o IPCA acima do centro da meta, em 3,9%.
Preocupação com preços
O aumento da Selic anunciado ontem já era esperado, pois seguiu o plano traçado em dezembro na gestão de Roberto Campos Neto. A alta nos preços está no topo das preocupações do governo Lula, que viu sua aprovação cair cinco pontos na última pesquisa Genial/Quaest, divulgada na segunda-feira.
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, criticou a decisão do Copom, mas poupou Galípolo. “Neste momento sabemos que não resta muita alternativa ao novo presidente do BC, Gabriel Galípolo”, disse Gleisi, crítica contumaz da gestão de Campos Neto.
O Brasil ocupa agora a segunda colocação no ranking mundial de juros reais, abaixo apenas da Argentina.
Em dezembro, o comunicado do Copom citava dinamismo da atividade “acima do esperado”. Desta vez diz que a atividade econômica tem apresentado “dinamismo”. A economia aquecida é um dos fatores para a alta da inflação.
Como tem feito em todas as reuniões, o Copom repetiu o alerta a respeito dos efeitos da política fiscal sobre a condução dos juros. Segundo o comunicado, “a percepção dos agentes econômicos sobre o regime fiscal e a sustentabilidade da dívida segue impactando, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes”.
Mas retirou trecho que afirmava em dezembro que “tais impactos contribuem para uma dinâmica inflacionária mais adversa”.
Para Silvio Campos Neto, sócio da Tendências Consultoria, o tom foi acertado diante das incertezas no cenário local e internacional nos próximos meses. Segundo o economista, o BC admitiu quadro mais difícil para a convergência de inflação e indicou que as decisões serão pautadas pelo compromisso de atingir a meta.
— O BC admite um quadro mais difícil. Tem percepção da gravidade e vai continuar ajustando os juros para reverter esse quadro — diz o economista, que deve revisar a projeção para a Selic de 14,75% para algo um pouco acima de 15%.
O Copom destacou que a inflação continua elevada, mantendo-se em níveis acima da meta, de 3%. A previsão do BC para a inflação no fim do ano subiu para 5,2%. O BC começou a mirar o prazo do terceiro trimestre de 2026 para entregar inflação na meta, quando prevê IPCA de 4%.
Internamente, afetam o cenário futuro para a inflação a preocupação dos agentes em relação à dívida pública, especialmente após a frustração com o pacote de corte de gastos do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Fed mantém juros
O BC atualizou o balanço de riscos. A chance maior é de que aconteçam eventos que elevariam a inflação. Diante das ameaças de Donald Trump, nos EUA, incluiu o risco de “um cenário menos inflacionário para economias emergentes decorrente de choques sobre o comércio internacional e sobre as condições financeiras globais”.
A decisão do Copom foi anunciada no mesmo dia que o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) paralisou o ciclo de queda de juros, em sua primeira reunião após o retorno de Trump à Casa Branca. A taxa foi mantida na faixa de 4,25% a 4,5% ao ano.
Jerome Powell, presidente do Fed, afirmou que a inflação se aproximou bastante da meta nos últimos anos, mas segue alta. E mencionou que o Fed não tem pressa em promover mais ajustes:
— Diante da nossa política significativamente menos restrita e de uma economia americana permanecendo forte, não tivemos pressa em ajustar nossas políticas.
A decisão foi unânime. Ao contrário das últimas decisões, o Fed não citou que a inflação estava convergindo para a meta de 2%, optando por dizer que ela “segue um pouco elevada”. Powell evitou comentar declarações de Trump, em que promete exigir a queda imediata das taxas.
Trump não poupou críticas ao Fed e acusou o banco central americano de não conseguir “acabar com o problema que criaram com a inflação”, em post na rede Truth Social.
No Brasil, o dólar engatou a oitava sessão de baixa, com queda de 0,06%, a R$ 5,86. (Colaboraram Geralda Doca e João Sorima Neto)
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