Galípolo, nome de Lula no BC, pode ter de elevar a Selic acima do patamar de Campos Neto; entenda – Estadão
- Na Mídia
- 11/12/2024
- Tendências
Da reunião de novembro para cá, houve uma piora significa nos ativos brasileiros, o que deve obrigar o Banco Central a ser mais duro na condução da política monetária
Escolhido pelo presidente Lula para comandar o Banco Central, Gabriel Galípolo corre o risco de ter de elevar a taxa básica de juros (Selic) para um patamar superior ao que foi praticado no auge do mandato de Roberto Campos Neto – a Selic chegou a 13,75%. Com a piora dos ativos brasileiros nas últimas semanas, a leitura dos economistas é de que o cenário ficou bem mais delicado desde o encontro de novembro do Comitê de Política Monetária (Copom). Agora, na avaliação deles, o País terá de passar por um processo ainda mais duro e longo de alta da taxa.
A reunião desta semana do Copom será a última de Campos Neto no comando do Banco Central. Indicado por Jair Bolsonaro, o atual presidente da autoridade monetária foi alvo de críticas de integrantes do governo pelo patamar da Selic. Galípolo assume a presidência do BC em janeiro de 2025 e terá mandato até o final de 2028.
Para esta quarta-feira, 11, os analistas de mercado vinham trabalhando com a possibilidade de que o Copom promovesse uma alta de 0,75 ponto porcentual na Selic – atualmente, em 11,25%. No entanto, tem crescido a probabilidade de que o aumento seja de 1 ponto porcentual.
“No nosso cenário, a Selic atinge 14% em junho do ano que vem”, afirmou Alessandra Ribeiro, diretora e sócia da consultoria Tendências. Ela prevê uma alta de 0,75 ponto porcentual no encontro desta semana. “A primeira queda, de 0,25 ponto, deve ocorrer em dezembro de 2025, e o Copom reduziria a Selic para 12% até meados de 2026.”
A revisão para o ciclo de alta de juros foi impulsionada pela deterioração significativa dos ativos brasileiros após a apresentação, pela equipe econômica, do pacote de contenção de gastos e da proposta de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. Desde que as medidas foram anunciadas, o dólar mudou para o patamar de R$ 6 e os juros futuros dispararam. O cenário da inflação, que já era difícil devido à economia e ao mercado de trabalho aquecidos, tornou-se ainda mais complexo.
Na segunda-feira, 9, a moeda americana fechou em alta de 0,20%, cotado em R$ 6,0829, renovando a máxima histórica nominal de fechamento, com a votação do pacote de contenção de gastos ameaçado no Congresso. Na mesma toada, os juros futuros subiram. Um título do Tesouro Nacional atrelado ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA) e com vencimento em 2035 já oferece um ganho real superior a 7%. Em janeiro, o retorno era de 5,37%. Na prática, é um sinal do aumento da desconfiança com o rumo das contas públicas do Brasil. Ou seja, os investidores estão exigindo um ganho maior para financiar um governo cujo endividamento só tende a aumentar ao longo dos próximos anos.
As medidas foram consideradas aquém do que o País precisa para controlar o aumento da dívida pública, além de serem interpretadas como uma antecipação da discussão política. A avaliação é a de que a equipe econômica saiu derrotada com o projeto de isenção de IR, num momento em que o Brasil precisa de um ajuste das contas públicas para garantir a sobrevivência do arcabouço fiscal e impedir o crescimento do endividamento – considerado alto para uma economia emergente.
O último relatório Focus, divulgado pelo Banco Central, mostrou bem essa piora da inflação. A previsão para o IPCA deste ano subiu para 4,84%; a de 2025 para 4,59%; e a de 2026 para 4%. Se os números se confirmarem, as projeções estarão acima do centro da meta (3%) e até do teto da meta (4,5%) neste ano e em 2025.
No cenário da XP, o Copom deve promover duas altas de 1 ponto porcentual e outras duas de 0,5 ponto porcentual. “Aumentamos a Selic no fim do ciclo para 14,25%”, afirmou Caio Megale, economista-chefe da XP, na semana passada, acrescentando que vê o BC tendo espaço para voltar a flexibilizar a política monetária no fim de 2025, “entre outubro e dezembro”.
“O mercado entrou em um processo de perda de referência. Ninguém sabe exatamente qual o fundamento do câmbio, por exemplo, e agora ninguém tem coragem de dizer onde vai parar o câmbio”, acrescentou Megale.
A incerteza fiscal se soma ainda ao cenário externo mais difícil com a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos e sua política que sinaliza ser inflacionária. O republicano assume o governo em janeiro e ameaça o comércio internacional com a imposição de tarifas e defendido a restrição da imigração, o que deve tornar o mercado de trabalho ainda mais apertado.
São políticas, portanto, que podem dificultar uma queda mais acentuada dos juros nos EUA. Taxas americanas mais altas drenam recursos de economias consideradas mais arriscadas, como a brasileira, e contribuem, portanto, para a desvalorização do real em relação ao dólar.
Em relatório, o Deutsche Bank avalia que o Copom deve aumentar o juro em 1 ponto porcentual no encontro desta quarta-feira. A previsão do banco é que os juros possam chegar em 14,50% no fim do ciclo de aperto monetário. Contudo, o estrategista-chefe para mercados emergentes do Deutsche Bank, Drausio Giacomelli, escreveu em relatório que “o ciclo permanece indefinido, e condicional ao câmbio e às expectativas de inflação”.
O Itaú é outra instituição que projeta aumento 1 ponto porcentual na Selic nesta semana – antes, previa alta de 0,75 ponto porcentual. O banco avalia que o Copom deve “afirmar que antevê um ajuste de mesma magnitude” na próxima reunião diante da piora nas projeções e no balanço de riscos. “Com esse contexto, acreditamos que a taxa terminal deve ser maior que nossa atual projeção de 13,50% ao ano.”
Reprodução. Confira o original clicando aqui!