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Efeito chinês desequilibra a balança automotiva brasileira – Jota

Em valores em dólar, a China é o maior fornecedor de veículos leves, com 43,9% do total importado pelo Brasil

Por Davi Gonçalves e Isabela Tavares*

Ao longo de 2024 os resultados do setor automotivo reforçaram a tendência de crescimento das importações no total das vendas de automóveis e veículos comerciais leves. Em sentido oposto, houve manutenção da trajetória de queda das exportações. Esse cenário tem como pano de fundo o crescimento acelerado das exportações chinesas de veículos, sobretudo elétricos e híbridos. 

Tal dinâmica afetou de forma negativa a produção nacional neste ano, seja pelo canal das importações, diante da maior competição com os eletrificados no mercado doméstico, seja pelo lado das exportações, em linha com a perda de participação nos mercados historicamente demandantes de veículos brasileiros em detrimento da China, especialmente na América Latina. Nos nove primeiros meses do ano, as importações de leves cresceram 37,3% na comparação com o ano passado. Em termos de participação no total de vendas, as importações de leves atingiram 18,1% no 1° semestre, melhor resultado desde 2014. 

O aumento das importações capta o forte crescimento das vendas de veículos eletrificados (elétricos ou híbridos), que, no acumulado até setembro, aumentaram 113,1% na comparação interanual, saindo de 57,5 mil unidades vendidas para 122,5 mil unidades. Em termos de participação, os eletrificados atingiram 7,1% do total de vendas de automóveis e comerciais leves (ante 3,7% na média do mesmo período do ano passado), segundo dados da Anfavea. Vale destacar que esse desempenho ocorre mesmo após o governo ter iniciado, em 2024, a taxação de veículos eletrificados importados, com alíquotas variando entre 10% e 12% de janeiro a junho, e reajustadas a partir de julho para uma faixa de 18% a 25% até o final do ano.

Há fatores conjunturais que favorecem o aumento do interesse dos consumidores brasileiros por carros tecnológicos e movidos a energias renováveis, dado o contexto mais favorável para o consumo de alta renda, como automóveis elétricos ou híbridos, diante das influências positivas do crescimento dos rendimentos das classes mais altas e boas condições de crédito. Além disso, os preços competitivos praticados pelas montadoras chinesas e a baixa produção nacional desses veículos contribuem para tal aceleração das importações. 

Segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), o licenciamento total de veículos chineses aumentou 290,0% no acumulado do ano até setembro, com participação de 25% no total das importações, ante 9% em 2023. Em contrapartida, a Argentina, tradicional parceira comercial do Brasil, perde espaço, caindo de 65% para 47% do total. Em termos de valores importados em dólar, a China já se tornou o maior fornecedor de veículos leves, com participação de 43,9% do total importado, bem à frente da Argentina, segundo colocado com 23,0%, segundo a Secex, considerando dados acumulados até setembro.

Embora a produção de veículos na Argentina enfrente desafios que resultam em um maior espaço para a China, a crescente presença chinesa é uma tendência autônoma. Esta dinâmica é observada não apenas nas importações brasileiras, mas também em outros países. Os veículos elétricos chineses estão ganhando destaque devido ao seu alto valor agregado em tecnologia e preços competitivos. 

Neste contexto internacional, as exportações brasileiras, que já mostravam baixo desempenho nos últimos anos, devido ao menor dinamismo das economias demandantes, captam pressões adicionais da crescente competição com os automóveis chineses. 

Nos primeiros nove meses do ano, as exportações de veículos leves recuaram 12,2% em relação ao mesmo período do ano anterior. Observou-se uma queda em relevantes importadores de automóveis brasileiros, como México, Chile e Colômbia, com retrações de 36,3%, 45,3% e 3,6%, respectivamente, em dólar, no acumulado do ano até setembro de 2024, conforme dados da Secex.

No curto prazo, o setor de veículos leves ainda deve sofrer com as influências da maior concorrência da China nas vendas domésticas e externas. O cenário leva em conta o aumento das tensões internacionais, que restringem as importações de veículos chineses aos mercados desenvolvidos, sobretudo para o EUA e Europa, o que deve estimular as vendas para mercados da América Latina. Vale destacar que a China enfrenta investigações sobre subsídios a seu setor automotivo em diversos mercados, principalmente na União Europeia. 

De toda forma, algum arrefecimento deve ser sentido nas importações de veículos da China, diante do aumento das alíquotas de imposto para os automóveis eletrificados produzidos no exterior, que subirá gradualmente até atingir 35% em julho de 2026. Além disso, há influências do câmbio mais depreciado, que aumenta os custos de importação desses veículos. 

Ao longo do próximo ano, as importações devem permanecer em níveis aquecidos, embora seja esperado um menor ritmo, tendo em vista a maior nacionalização da produção de eletrificados e híbridos, dado o plano de empresas como BYD e GWM de iniciarem a produção no país em 2025.

*Davi Gonçalves e Isabela Tavares são consultores da Tendências Consultoria

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