Tendências Consultoria Econômica

  • Português
  • English
Edit Template

Gabriel Galípolo é aprovado por comissão do senado – BandNews

Alessandra Ribeiro, Economista da Tendências Consultoria, comenta sobre a aprovação de Gabriel Galípolo pela Comissão do Senado para a BandNews.

Quando questionada sobre a independência de Gabriel Galípolo à frente do Banco Central, Alessandra explica que esse é o ponto mais sensível e que a grande dúvida do mercado é se esse Banco Central, que vai ter a maioria dos seus membros indicados pelo atual governo, será uma instituição de fato independente na condução das suas agendas, especialmente em relação à política monetária.

Ela ainda diz que as respostas de Galípolo na sabatina foram na direção de sempre seguir critérios técnicos para as tomadas de decisões, especialmente em relação a juros. Alessandra acredita que, de forma geral, as respostas vieram em linha com o esperado, de um Banco Central técnico, pautado pelo sistema de metas de inflação, principalmente pelo fato de que, por várias vezes, ele reforçou que o objetivo é perseguir a meta de inflação estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional.

“De forma geral, as respostas vieram alinhadas com essa expectativa de independência. Agora, o mercado só vai reduzir seus receios em relação a esse novo Banco Central com as decisões efetivamente. Vai ser no dia a dia, após cada decisão, vendo se elas realmente foram pautadas por critérios técnicos ou se mostraram algum tipo de viés, que poderia vir de alguma potencial influência política.”

Temores do mercado

“(…) A constituição do Banco Central vai ter sua maioria com indicados do atual governo. E nós sabemos que, além do presidente, agora Galípolo, que provavelmente será confirmado no plenário do Senado, há três novas indicações: a substituição do próprio Galípolo na diretoria de política monetária e há dois novos nomes, também, que precisarão ser indicados para duas outras diretorias. Então acho que tem essa expectativa também de quem serão esses três nomes. Daí, o mercado vai entender os sinais e, depois, no dia a dia, como comentei, das decisões do Copom, realmente testar o Banco Central e ver se ele está seguindo os critérios técnicos, perseguindo a meta de inflação estabelecida e não está tendo nenhum viés nas suas decisões. Esse é o receio.”

Alessandra ainda diz que estamos vivendo um processo novo com a independência formal do Banco Central e essas mudanças de mandato na instituição, justamente para não coincidir com o governo do momento.

“Acho que, de fato, essa é a melhor prática, quando pensamos em uma instituição de Estado independente. O Brasil está lidando com essa novidade, vendo como essa transição será suave, se as agendas que estão em curso e todo o operacional técnico do Banco Central continuam imperando, mesmo com as mudanças de mandato no meio do caminho.”

“Além da novidade em si, tem o receio pelo passado que tivemos, especialmente durante os governos do PT, seja com o próprio presidente Lula e a presidente Dilma lá atrás, em que tivemos, sim, pressões significativas sobre o Banco Central, inclusive muito fortes durante a presidência de Dilma. Então há o receio do mercado em relação à indicação da maioria desses membros com o governo sendo de esquerda.”, explica Alessandra.

Controle da inflação

Alessandra diz que “nós esperamos mesmo a continuidade do movimento de alta de juros pelo Banco Central. Ele já fez esse primeiro movimento de alta de 25 pontos. Nós esperamos uma aceleração desse juros, então com duas altas de 50 pontos e mais uma alta final no começo do ano que vem de 25 pontos. O próprio Galípolo colocou, durante o processo no Senado, que a economia segue muito robusta. De fato, temos observado os números mais recentes da economia brasileira e temos uma atividade significativa, bastante aquecida. O problema é que, apesar de ser positivo, há o risco dessa atividade muito aquecida implicar em inflação mais elevada, que corrói de maneira significativa o poder de compra das famílias, especialmente as de mais baixa renda.”

“Para evitar esse processo de recrudescimento da inflação, o Banco Central está subindo os juros agora para esfriar essa atividade econômica e garantir que a inflação convirja para a meta. Lembrando que a nossa meta é de 3%. A nossa estimativa para a inflação esse ano é de 4,2%, ainda fica dentro da banda, cujo limite superior é 4,5%, mas tem um processo a ser feito pelo Banco Central para não só evitar que essa inflação seja mais alta, mas garantir que ela convirja para os patamares de 3%.”

Sobre o fato de Galípolo ter defendido que o Banco Central sequer participasse da votação da decisão da meta de inflação no país, que hoje é definida pelo Conselho Monetário Nacional, formado pelo presidente do Banco Central, Ministro da Fazenda e Ministro do Planejamento, Alessandra acredita que o mercado não entende como um problema.

“Claro que o Banco Central, por ser um operador, faz sentido também participar, na minha avaliação. Mas o que ele quis mostrar é que o Banco Central pode ser completamente independente desse processo de definição da meta e que a função dele é perseguir a meta estabelecida, qual seja ela, para mostrar realmente uma total independência do Banco Central neste processo. (…) Mas, de qualquer forma, acho que, dada a importância do processo inflacionário na economia brasileira e o próprio papel do Banco Central como operador, eu ainda vejo a participação do BC como importante nesse processo.”, explica Alessandra.

Confira a entrevista completa no vídeo abaixo!