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PIB avança 1,4% – O Globo

Crescimento do 2º trimestre é bem acima do esperado, puxado por consumo das famílias

A economia brasileira acelerou no segundo trimestre. O Produto Interno Bruto (PIB, o valor de tudo o que é produzido na economia) avançou 14% sobre o primeiro trimestre, a maior alta desde o fim de 2020, fase inicial da retomada após o baque causado pela eclosão de Covid-19.

O ritmo ficou acima da alta de 1% dos três primeiros meses do ano, revisada para cima – de 0,8%, inicialmente – pelo IBGE, que divulgou os dados ontem. E veio acima do consenso das projeções de mercado, de alta de 0,9%. Isso deflagrou uma série de revisões para cima nas estimativas. Economistas já falam em crescimento anual próximo de 3%, repetindo o ritmo verificado desde 2022.

Pela ótica da demanda, o avanço de 1,3% no consumo das famílias e a expansão de 2,1% na formação bruta de capital fixo (FBCF, a conta dos investimentos no PIB) puxaram o crescimento. Pelo lado da oferta, as altas de 1% dos serviços e de 1,8% da indústria foram os destaques – a queda de 2,3% da agropecuária já era esperada, por causa de problemas climáticos.

Impulso fiscal

A demanda dos consumidores vem surpreendendo desde o ano passado. Sua força, mantida no segundo trimestre, vem de uma combinação entre um mercado de trabalho que gera empregos, eleva salários e tem a taxa de desemprego nas mínimas históricas, e o que economistas chamam de “impulso fiscal”, o aumento de gastos do governo, que injeta renda diretamente no orçamento das famílias.

O terceiro mandato de Lula começou, em 2023, mantendo o piso do benefício do Bolsa Família em R$ 600 por mês – após aumento dado pelo governo Jair Bolsonaro na campanha eleitoral de 2022. Também retomou a política de reajustes reais do salário mínimo, que serve de piso para transferências do governo, como aposentadorias e pensões.

Com mais renda nas mãos, as famílias gastaram mais. A cabeleireira especializada em tranças, Mariana Bernardino, de 23 anos, viu o número de clientes praticamente dobrar a partir do segundo trimestre e, agora, já sobre dinheiro para gastos com os quais não podia arcar antes:

– Ao longo dos meses, tive aumento entre R$ 2 mil e R$ 3 mil de faturamento no mês. Se antes eu tinha cerca de 25 clientes, agora já são mais de 40 – disse a trancista. – Claro que agora eu tenho que pagar dois aluguéis, o da minha casa e o do salão, mas estou vivendo melhor. Posso sair mais, curtir mais, coisas que antes ficavam difíceis para mim. Já posso até levar meus pais para jantar e pagar tudo.

O movimento teve apoio da expansão do crédito, que, segundo o IBGE, saltou 11% no segundo trimestre, frente a igual período de 2023. Ainda que a alta seja menor quando se desconta a inflação, é um impulso ao consumo, especialmente de bens duráveis. Mariana conta que, com a renda maior, comprou mobília nova para seu apartamento.

Além disso, no segundo trimestre, os juros ainda estavam em nível abaixo do verificado um ano antes. O Banco Central suspendeu o ciclo de queda na taxa básica Selic (hoje em 10,5% ao ano) em junho, mas, para os tomadores finais de empréstimos, o fim do alívio ainda não chegou. No segundo trimestre, as condições ainda estavam mais favoráveis do que antes.

– A necessidade básica vai para a alimentação. Depois, o consumidor diversifica mais. Mais crédito, com uma taxa de juros não tão alta, impulsiona o consumo de bens duráveis, o que está acontecendo um pouco neste ano – afirmou Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, lembrando que o bom momento do mercado de trabalho favorece a expansão de crédito. – As pessoas tomam crédito achando que vão pagar depois (porque estão empregadas).

Construção civil cresce

Para a economista Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria, os efeitos das medidas do governo parecem estar durando mais do que o imaginado por analistas, o que pode ter contribuído para as surpresas positivas em relação às projeções.

– Houve, sim, uma subestimação do “impulso fiscal” – afirmou Alessandra, lembrando que o aumento do piso dos benefícios do INSS ajuda, principalmente, a renda dos mais pobres.

A força da demanda doméstica, incluindo aí o avanço dos investimentos, puxou bons desempenhos de atividades de serviços e da indústria. A construção civil cresceu 3,5% ante o primeiro trimestre, enquanto os serviços financeiros avançaram 2%.

Para Juliana Trece, pesquisadora da Fundação Getulio Vargas (FGV), com o mercado de trabalho aquecido, a demanda pode até desacelerar, mas deverá seguir puxando uma série de atividades econômicas, como os serviços, a construção civil e a indústria de transformação. 

Este último setor avançou 1,8% sobre o primeiro trimestre, após alta de 0,9% nos três primeiros meses do ano, em parte reagindo à demanda mais aquecida.

– A indústria vinha de desempenhos ruins ao longo do tempo, então esse crescimento forte é muito comentado – disse Juliana.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comemorou o resultado do PIB, numa postagem na rede social Threads: “ Crescimento que se soma ao aumento dos empregos, o consumo das famílias e melhor qualidade de vida. Sem bravatas e mentiras.”

Impacto da tragédia no Sul foi menor do que o previsto

Perdas se concentraram na agropecuária. Reconstrução compenso paralisação do comércio e das indústrias com as cheias

A agropecuária foi o único setor do PIB que sentiu de forma mais firme o impacto negativo das enchentes que assolaram o Rio Grande do Sul entre abril e maio, o que pode ter contribuído para a surpresa positiva com a economia no segundo trimestre.

A agropecuária foi o único dos setores que ficou no negativo, com retração de 2,3% sobre o primeiro trimestre.

Segundo o IBGE, o impacto da tragédia na indústria e nos serviços foi limitado. Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do órgão, disse que também pode ter havido impacto positivo das medidas para mitigar o desastre e iniciar a reconstrução no consumo do governo, um dos componentes do PIB, que inclui gastos públicos voltados para a prestação de serviços. Ele avançou 1,3% ante o primeiro trimestre:

– Com o passar do tempo, vai acabar impactando os investimentos. Se recursos do governo forem para obras de recuperação, aí tem a ver com o investimento. Então, pode ter tido influência no consumo do governo e também no investimento.

Esse efeito da reconstrução impulsionando os investimentos deve continuar neste terceiro trimestre.

Logo quando houve a tragédia, economistas projetaram um efeito negativo no segundo trimestre, mas, conforme os indicadores de atividade foram sendo divulgados mês a mês, o que se revelava era que esse impacto não havia sido tão grande quanto o esperado inicialmente.

A economia gaúcha responde por cerca de 6,5% do PIB nacional, segundo o IBGE. Além do impacto imediato sobre a produção agrícola, que acabou se confirmando, as chuvas e os alagamentos impediram as pessoas de consumir, interromperam a produção de fábrica e a prestação de serviços, provocando a perda de maquinário e estoques.

Inicialmente, havia também a expectativa de que as paradas de produção nas fábricas gaúchas afetassem outros estados, que dependem de insumos fabricados no Rio Grande do Sul. É o caso do setor automotivo, com destaque para peças e componentes, da indústria moveleira e das confecções.

Rebeca destacou que as projeções mais pessimistas não se confirmaram, porque houve uma recuperação na economia gaúcha. Várias atividades da indústria e dos serviços despencaram em maio, mas se recuperaram em junho. Com isso, no saldo do segundo trimestre, o impacto acabou menor do que o esperado.