O cenário atual da política brasileira – CNN Brasil
- Na Mídia
- 19/07/2024
- Tendências
Em participação no programa WW da CNN Brasil, Rafael Cortez, sócio e responsável pela análise de risco político da Tendências, comenta sobre o cenário atual da política brasileira.
Quando questionado sobre os atritos entre o Governo Federal e o Governo do Estado de São Paulo representarem uma antecipação sobre as eleições de 2026, Cortez diz que não há dúvidas, principalmente pelo fato de em 2024 já termos as eleições municipais.
“Como o Tarcísio é a bola da vez para representar eventualmente o bolsonarismo em 2026, organizando um projeto rival ao do presidente Lula, todo movimento entre esses dois nomes vai ganhar uma repercussão política para além da temática específica (a privatização da Sabesp).”
Entretanto, apesar de parecer que está tudo muito bem encaminhado para Tarcísio ser candidato, pois ele teria os apoios que Bolsonaro não teve, mais apoio na imprensa do que Lula, além do o apoio do Judiciário e do Centrão, que Bolsonaro acabou perdendo, Cortez não acha que é bem assim.
“Ainda não sabemos em que medida virá esse apoio do Centrão. Obviamente, há uma chance bem relevante de alguns partidos hoje, que estão na base aliada, eventualmente rivalizarem contra a provável tentativa de reeleição de Lula, mas, em alguma medida, isso depende da popularidade que Lula terá até chegar em 2026.”
“Um ponto fundamental é um pouco a disposição a risco que Tarcísio tem pessoalmente. Muito possivelmente, ele chegaria em 2026 para disputar uma reeleição de forma tranquila e certamente pagaria o risco de eventualmente ser derrotado pensando na eleição presidencial.”, diz Cortez. “A variável chave é o quanto ele está disposto a tomar algum risco, porque a disputa presidencial é certamente mais difícil do que seria a reeleição.”
Sobre o governo Lula 3, Cortez diz que ele tenta basicamente, seja no discurso ou em algumas medidas também concretas, ser muito próximo ao modelo que o PT já apresentou e que foi muito exitoso em diversos indicadores de crescimento econômico, sociais e, evidentemente, políticos. Entretanto, em alguma medida, não dialoga mais com uma parte importante, seja dos grandes setores econômicos ou das lideranças políticas.
“Então, acho que tem uma percepção de que esse modelo não vai mais trazer as taxas de crescimento que chegou a trazer em algum momento. Pega a questão fiscal, por exemplo. A gente tem um problema ainda que é sério: o Brasil não gera superávit primário.”, aponta Cortez.
“Só para adicionar um ponto, a questão de segurança pública. Esse é um outro tema que as pesquisas mostram e que tem machucado o discurso da esquerda, e que pode estar machucando também a avaliação do governo. Então, acho que, enfim, em resumo, por diversos caminhos, devemos ter uma eleição com mais discussão de política pública do que teríamos se fosse uma repetição Lula versus Bolsonaro.”
“O mercado de trabalho vem muito bem, a renda vem crescendo muito bem, mas, de novo, quando se olha as pesquisas, parece faltar alguma coisa, que é um elemento político que a gente não sabe muito bem o que é, mas que tem, certamente, limitado o nível de popularidade que o incumbente pode ter, não só no Brasil, mas em outros cenários.”, diz Cortez.
Sobre os impactos que as eleições dos Estados Unidos possam gerar no Brasil, Cortez diz que o grande impacto é político. “O cenário brasileiro, por incrível que pareça, tem muita coisa em comum com o americano, algumas simbólicas e outras mais sérias, como a violência política em ambos os casos.” Cortez acredita que isso cria uma conexão entre os grupos políticos aqui e lá, podendo resultar em uma política externa brasileira mais difícil, uma política econômica mais complexa e um debate interno mais polarizado, especialmente se Trump vencer. Isso pode levar quem faz balanço de risco a ver a metade final do mandato de Lula de uma forma bem diferente. Isso começa com a eleição americana e se reflete nos nossos problemas políticos domésticos.
Confira a entrevista no vídeo abaixo!