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‘O Nó dos Juros’: os impactos dos juros altos na economia e no seu bolso – CNN Brasil

Em matéria especial da CNN Brasil, o sócio fundador da Tendências e ex-Ministro da Fazenda, Maílson da Nóbrega, explica como a Selic afeta fatores como a produção, a geração de empregos, a renda, o consumo e, por consequência, o crescimento do país.

A cada 45 dias, o Banco Central anuncia a taxa Selic e, com esse anúncio, acontece um reposicionamento de peças na economia brasileira. Afinal de contas, essa taxa é como se fosse a principal peça desse tabuleiro que é a nossa economia brasileira, porque as outras vão ser influenciadas por ela.

Isso acontece porque o juro decidido pelos diretores e pelo presidente do Banco Central funciona como o primeiro preço, o inicial de todo o dinheiro que circula na economia.

Uma boa comparação é o petróleo. Se o barril ficar mais caro por uma guerra, por exemplo, aí é só esperar que tudo o que deriva dele vai aumentar de preço: gasolina, diesel, plásticos e produtos químicos, por exemplo. A alta ou a queda dos juros gera o mesmo efeito, só que com o dinheiro. Crédito pessoal, cartão de crédito, capital de giro, financiamento da casa própria, investimentos… Enfim, tudo que envolve usar, emprestar ou investir dinheiro vai ser impactado.

“O encarecimento do crédito reduz o apetite das pessoas para tomar crédito, para renovar o carro, para comprar um apartamento… Tudo isso vai gerando queda de demanda que, de um lado, ajuda a combater a inflação, mas, do outro, retrai a atividade econômica. O país cresce menos, os empregos crescem menos, a renda cresce menos, e tudo isso conspira contra o futuro.” explica Maílson.

 Em junho de 2024, o Banco Central decidiu que era preciso usar essa receita e, assim, foi interrompido o ciclo de queda dos juros, fazendo a “peça” taxa Selic parar de ser mexida.

Ao explicar essa medida, o Comitê de Política Monetária citou as preocupações com as previsões para a inflação, que têm subido e se afastado da meta. É o que os economistas chamam de desancoragem das expectativas. E, se o juro continuasse a cair, a inflação futura poderia ser ainda maior, mais longe da meta.

Uma série de fatores explica o pessimismo com a inflação: no exterior, os preços e os juros nos Estados Unidos geram muitas dúvidas. A economia chinesa também é motivo de cautela. Boa parte das razões, porém, é puramente brasileira, especialmente no que diz respeito às contas públicas.

A dívida do Brasil tem crescido a passos largos. Já são R$ 8,5 trilhões. O valor aumentou 13% no último ano e saltou 52% desde a pandemia. Só nos últimos 12 meses, a dívida cresceu quase R$ 1 trilhão. Esse valor tem aumentado a um ritmo de mais de R$ 2 bilhões por dia, R$ 109 milhões, R$ 30 mil a mais na dívida pública a cada segundo. E o pior: essa dívida não é para melhorar a vida das pessoas com mais escolas, hospitais, estradas, nem metrô.

“O problema é que, aqui no Brasil, o Tesouro se endivida para cobrir gastos e funcionamento do governo: salários, previdência, programas sociais.” diz Maílson.

Se o governo tem mais dívida, também terá de pagar mais juros. Então aparece outro grupo. É verdade que o juro alto é comemorado por algumas pessoas que ganham quando têm, por exemplo, dinheiro investido na renda fixa e recebem os juros mais altos. Só que, num país como o Brasil, a maioria das pessoas está lá atrás nessa corrida, porque são os que estão acostumados a pagar juros no cheque especial ou no cartão de crédito. São poucos, muito poucos mesmo, que recebem juros, por exemplo, no investimento no Tesouro Direto ou no CDB. São eles que vão ganhar.

Só em 2023, esse grupo de investidores que têm títulos do governo recebeu a bagatela de mais de R$ 800 bilhões em juros. Todo esse dinheiro saiu do Tesouro Nacional e foi pago aos que emprestaram dinheiro ao governo brasileiro. Neste grupo estão desde as grandes instituições financeiras globais até os pequenos investidores, que têm parte da poupança no Tesouro Direto. 

Confira a reportagem completa no vídeo abaixo!