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“Economia Pra Você”: Juliana Rosa entrevista Alessandra Ribeiro, economista e sócia da Tendências – BandNews

A economia cresceu no primeiro trimestre. Foi um bom resultado, sustentado pelo consumo das famílias e pelos investimentos. Para responder se a gente vai conseguir sustentar o crescimento nos próximos meses, o BandNews recebeu Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultorias, e Luiz Otávio Leal, economista-chefe da gestora G5 Partners. 

Com o PIB, muito acima do previsto pelos economistas, muita gente tem se questionado sobre o que está acontecendo na economia para que as previsões toda hora estejam sendo superadas para melhor.

Quando questionada sobre o que deve ser destacado nos resultados do primeiro trimestre, Alessandra diz que tivemos um resultado muito mais positivo do que o imaginado e em relação a projeções do final do ano de 2023, com uma força de consumo das famílias e investimentos.

“Uma das surpresas tem sido o mercado de trabalho, que tem, consistentemente surpreendido para cima, tanto em termos de geração de vagas quanto em relação à massa de rendimentos. Então, a gente tem visto essa resiliência, e não só olhando o trabalho informal, mas também o trabalho formal, com o crescimento muito acima do esperado. Esse tem sido um campo de reflexão dos economistas, inclusive com a gente tentando entender melhor os efeitos da reforma trabalhista lá de trás, que achamos que tem uma boa dose de explicação por trás desses números.”

Ela ainda diz que, além da questão do mercado de trabalho, existem alguns elementos mais focalizados, como o pagamento dos precatórios, com a estimativa de que cerca de 40 bilhões chegaram diretamente às famílias. O mercado também foi impulsionando o consumo e até mesmo o crédito. “O crédito teve um comportamento mais favorável e, quando a gente olha entre famílias e empresas, foi muito mais favorável para as famílias. Então, esse conjunto de fatores na nossa avaliação explicou esse comportamento melhor, especialmente do consumo das famílias.” Apesar disso, Alessandra diz que ainda estamos um pouco mais cautelosos em relação a essa boa performance no primeiro tri. 

Quando questionada sobre o que destaca dos setores para esse crescimento, Alessandra diz que a sensibilidade das pessoas muda com essa estrutura de crescimento que a gente está observando agora, porque é mais disseminado. 

“Até porque a gente viu um peso muito importante do agro no ano passado, crescendo 15%. Esse ano temos um cenário diferente, mas, de qualquer forma, vimos algumas concentrações. E agora a gente está vendo o consumo das famílias, tanto na parte de bens, quanto na parte de serviços, com o comércio muito forte, que é o empregador, a gente vê a importância dele na geração de postos de trabalho e. Pensando em serviços mais relacionados à tecnologia, eles continuam impulsionando também. A intermediação financeira, essa parte imobiliária também está dando sinais melhores. (…) Isso acaba disseminando e chegando mais na ponta que é em termos de geração de emprego, que é o que as pessoas sentem mais.” 

“Além desses elementos, a gente também o papel do investimento público também impulsionando, que aparece nesses setores mais ligados a máquinas e equipamentos, construção civil, que aí as pessoas sentem do lado da empregabilidade, seja na indústria, seja na construção civil.”, aponta Alessandra.

“Então, de fato, eu acho que essa estrutura de crescimento explica também porque a gente está vendo ainda não só a questão da reforma trabalhista sobre o mercado de trabalho, mas essa estrutura também gerando esses números acima do esperado do mercado de trabalho.”.

Sobre os impactos da tragédia do Rio Grande do Sul. Alessandra diz que a gente também tem um movimento semelhante com o segundo trimestre mais fraco e, a partir desse movimento mais expressivo de queda, um processo de recuperação gradual, também pensando especificamente no caso do Rio Grande do Sul, que impacta a economia brasileira.

Quando questionada sobre o motivo do mau humor do mercado financeiro, mesmo com perspectivas positivas para 2025, Alessandra diz que, quando olham no quadro atual, os números são muito bons, mas quando projetamos para frente, levando em consideração o que está acontecendo hoje no mercado, tem uma piora de percepção de risco, como é o caso da alta do câmbio e a alta dos juros futuros.

“Por isso que, para frente, a gente está um pouco mais cauteloso, porque isso tem efeito nas condições de crédito, percepção de risco e confiança. (…) Para 2025, a gente tem uma avaliação um pouco diferente, revisando um pouco para baixo. Temos 1,8% esse ano e estamos trabalhando com 1,7% para o ano que vem, já captando um pouco desses efeitos.”, aponta Alessandra.

Ela também sinaliza o agro como outro ponto a se ter cautela, principalmente no Rio Grande do Sul, porque, além do problema atual, ainda existem os efeitos do La Niña. Alessandra frisa que, toda vez que acontece esse fenômeno no estado, temos uma queda importante no PIB agropecuário.

Sobre o tópico dos riscos internos para a economia, Alessandra diz que, além da questão externa, que é importante, temos uma piora no componente doméstico também, com a política monetária, com o Banco Central, e fiscal.

“O ponto de maior sensibilidade aqui é o endividamento, porque se a conta não fecha, a gente vai ficando com o resultado primário negativo, juntando as despesas com juros. E aí o que acontece: a dívida vai subindo. A gente projeta uma dívida de 77,5% e, no nosso cenário, ao longo dos próximos anos, chega a 84%. E qual o problema de ter endividamento alto? O custo de você lidar com uma dívida muito alta é muito maior. Olhando o horizonte, seja do Brasil ou do mundo, estamos vendo juros mais altos e uma potencial eleição do Trump, que pode ser complicada para Estados Unidos e mundo.”.

Alessandra finaliza dizendo que, quando olhamos para frente, com potenciais choques acontecendo, e temos uma dívida alta, esse é o problema: pode piorar essa dinâmica, então ficamos mais vulneráveis.

“O mercado antecipa isso. Pode até ter um grau de exagero, mas a gente tem uma dinâmica complicada aqui que eu resumiria especialmente nessa vulnerabilidade ao alto endividamento.”

Confira a entrevista completa no vídeo abaixo!