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Desemprego de longa duração cai ao menor patamar desde 2015 – O Globo

O Brasil fechou o quarto trimestre de 2023 com 1,8 milhão de desempregados que estavam à procura de trabalho há dois anos ou mais, o chamado desemprego de longa duração. É o menor número para o período de outubro a dezembro desde 2015 (1,7 milhão). Representa uma queda de 17,6% em relação ao mesmo trimestre de 2022, quando havia 2,2 milhões nessa situação, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada ontem pelo IBGE.

– As pessoas de modo geral estão permanecendo menos tempo na condição de desempregado. Isso mostra uma capacidade de inserção na ocupação mais rápida do que em períodos anteriores, o que é um fator bastante positivo – afirma Adriana Beringuy, coordenadora de Pesquisas por Amostra de Domicílios do IBGE.

Analistas veem a notícia como positiva, mas já percebem sinais de desaceleração na melhoria do mercado. Rodolpho Tobler, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), afirma que a taxa de desemprego anual voltou a um patamar historicamente baixo para o Brasil após anos em dois dígitos, mas o bom desempenho do mercado de trabalho não deverá se repetir em 2024. 

– Não devemos observar seguidas quedas da taxa de desemprego. Na média do ano, deve ficar próxima ao patamar atual – projeta.

Danton Muniz, de 24 anos, foi um dos que conseguiram emprego após mais de dois anos de procura. Ele ficou quatro anos desempregado.

– No começo, você tem a esperança que jogo vai surgir um trabalho, uma vaga. O tempo passa, as coisas apertam e, no final, a única coisa que resta é o desespero.

Em setembro do ano passado, começou a trabalhar como operador de caixa em uma rede de supermercados. Para ele, a parte mais difícil em sua busca foi manter a saúde mental.

– É preciso ter experiência para certas vagas, mas, para ganhar experiência, você precisa trabalhar. É complicado. A busca sem resultado te abala muito.

Lucas Assis, economista da Tendências Consultoria, chama atenção para o aumento na força de trabalho, com a melhora do mercado, o que pode fazer a taxa de desemprego subir. Além disso, o agronegócio, que impulsionou a economia e a geração de vagas no ano passado, não deve ter o mesmo vigor este ano:

– Para 2024, a expectativa é de crescimento moderado da população ocupada, em linha com a perda de ímpeto da atividade econômica.

O desemprego caiu no quarto trimestre para homens e mulheres, embora a queda tenha sido maior para eles. Enquanto a taxa de desocupação das mulheres caiu de 9,3% para 9,2% na passagem do terceiro para o quarto trimestre, a dos homens recuou de 6,4% para 6% no mesmo período, aumentando a desigualdade de gênero no mercado de trabalho. A coordenadora do IBGE explica que a distância cresceu pelo perfil de vagas abertas no quarto trimestre, concentradas em indústria, construção e transportes, ocupadas em sua maioria por homens.

– São atividades que têm uma presença importante da população masculina. Na construção, cerca de 80% da população ocupada é formada por homens.

Assim, somente a taxa de desocupação dos homens está abaixo da média nacional, que ficou em 7,4% no fim do ano passado.

Assis, da Tendências, lembra que o cuidado com os filhos e os afazeres domésticos acabam afastando as mulheres do mercado de trabalho:

– Muitas afirmam não ter tomado providência para conseguir uma ocupação por ter que cuidar de afazeres domésticos, de filho ou de outro parente, motivos quase irrelevantes entre os homens. Por isso, a importância da expansão da rede de cuidados para ampliar a participação das mulheres no mercado. Isso poderia gerar crescimento da renda nacional e das receitas tributárias do país, reduzindo as desigualdades.

Segundo Tobler, há uma distância também na renda:

– Vamos precisar de políticas mais efetivas.

O salário da mulher representa 79,2% do rendimento do homem. No quarto trimestre de 2022, essa distância era maior. 77,7%. Mesmo com desemprego maior, a distância salarial caiu.

Recuo da taxa no Rio

No recorte estadual, somente Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte tiveram queda na taxa de desemprego no último trimestre, quando comparada aos três meses anteriores. No Rio, a taxa recuou de 10,9% para 10%. Já no Rio Grande do Norte, o percentual caiu de 10,1% para 8,3%. Nos demais, houve estabilidade ou alta. Na média do ano, no entanto, 26 das 27 unidades da federação apresentaram recuo em relação a 2022.

No recorte por idade, o desemprego dos jovens de 18 a 24 anos caiu ao menor nível desde o último trimestre de 2014, o melhor ano do mercado de trabalho recente. A taxa está em 15,3%.