Tendências Consultoria Econômica

  • Português
  • English
Edit Template

Analistas preveem o menor desemprego da série histórica neste ano – O Estado de S. Paulo

Número deve refletir economia aquecida, mas também o fato de a taxa de participação não ter recuperado o nível pré-pandemia

A taxa de desemprego deve encerrar o ano de 2024 no menor nível já apurado pela série histórica, iniciada em 2012, num resultado melhor do que o observado em 2013, quando a desocupação foi de 6,3% em dezembro, avaliam especialistas consultados pelo Estadão/Broadcast.

O número deve refletir fatores conjunturais, como a economia aquecida nos últimos dois anos e o crescimento das contratações, mas também algumas questões estruturais, em especial, o fato de a taxa de participação no mercado de trabalho no País, embora crescente, ainda não ter recuperado o nível histórico do período pré-pandemia da covid-19.

Somado a isso, reformas estruturais, como a trabalhista, aprovada em 2017, levaram à redução da chamada taxa de desemprego natural, a Nairu (na sigla em inglês). Assim, diferentemente do cenário de 11 anos atrás, o desemprego baixo tende a permanecer de forma mais sustentada agora, gerando também menor pressão inflacionária, sobretudo nos itens mais sensíveis ao ciclo econômico, apontam os analistas.

Na projeção do economista Bruno Imaizumi, da LCA Consultores, a taxa de desemprego medida pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) – que encerrou setembro em 6,4% – deve seguir caindo até atingir 6% em dezembro, acompanhando o tradicional aquecimento das contratações de fim do ano.

A previsão para o comportamento do mercado de trabalho é a mesma da Tendências Consultorias, que estima uma taxa de desocupação de 6% ao fim deste ano.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de participação no mercado de trabalho encerrou 2019 em 63,6%, ante 62,4% até o trimestre encerrado em setembro deste ano – último dado disponível. O nível de agora é igual ao de 2013, quando a taxa de participação encerrou o ano em 62,4%.

A taxa de participação é o porcentual de pessoas que efetivamente participam do mercado – ocupadas ou desocupadas – dentro do total de pessoas em idade de trabalhar (acima de 14 anos, pelos critérios do IBGE).

Menor procura

Nos cálculos de Imaizumi, contudo, caso a taxa de participação no mercado de trabalho, isto é, o porcentual de brasileiros em idade para trabalhar que efetivamente buscam vagas, estivesse hoje nos níveis de 2019, a desocupação estaria entre 8% e 9%. “Por causa de uma saída maior das pessoas da força de trabalho durante a pandemia, convivemos hoje com taxas de desemprego muito mais baixas, não só no Brasil, mas no mundo todo”, explica.

De acordo com o economista, o que ajuda a explicar uma taxa de participação mais baixa do que no período pré-pandemia é a mudança na composição etária do País, com cada vez mais idosos no País – que tendem a procurar menos emprego –, e a expansão tanto do valor como do número de beneficiários de programas de transferência de renda.

“Quem saiu dessa força de trabalho teria uma probabilidade maior de estar desempregado”, afirma Fernando Veloso, economista e pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

Em novembro, o Bolsa Família deve contemplar 20,77 milhões de famílias, segundo dados do governo federal, alcançando 54,37 milhões de pessoas. O valor médio do benefício previsto é de R$ 681,22. No Norte, chega a R$ 714,84.

Reforma

Veloso afirma ainda que, diferente do que muitos imaginam, o principal efeito positivo da reforma trabalhista não vem da criação de novas modalidades de trabalho, como os contratos intermitentes ou parciais, mas sim da redução da insegurança jurídica, o que, obviamente, deixa as empresas mais seguras para realizar eventuais contratações. “Houve queda dos processos na Justiça trabalhista, porque antes não havia nenhum custo para o trabalhador entrar na Justiça trabalhista contra a empresa.”

O pesquisador da FGV acrescenta que tanto a reforma quanto a queda da taxa de participação no mercado de trabalho levaram a uma taxa de desemprego natural – ou seja, a taxa de equilíbrio, que não gera pressão inflacionária – para um nível também mais baixo hoje.

Embora seja uma variável não observável, ele estima que a desocupação neutra passou de cerca de 10% na década passada para cerca de 8% agora. A estimativa é parecida com a qual trabalha a LCA, que calcula que o desemprego natural na primeira metade de 2024 oscilou entre 7,5% e 8%.